O lançamento do relatório da Organização Mundial da Saúde, que tem como título “Neurociências: consumo e dependência a substâncias psicoativas”, teve seu encerramento na última sexta-feira, dia 19, no Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB), depois de passar por Brasília e São Paulo. A importância desse relatório está em alertar a sociedade quanto ao perigo que o consumo excessivo de álcool, tabaco e outras drogas lícitas e ilícitas traz para a saúde mental e física, além de combater a discriminação e garantir o direito do tratamento para os dependentes químicos.
O Brasil foi escolhido para sediar o lançamento do relatório por ser um ponto de referência para a reforma psiquiátrica, segundo o Chefe do Departamento de Saúde Mental e Dependência de Drogas da OMS, dr. Benedetto Saraceno. “O Brasil ocupa uma posição de liderança na reflexão geral de saúde pública”, completa Saraceno.
Estiveram presentes o decano do Centro de Ciências da Saúde (CCS), dr. João Ferreira da Silva Filho, o diretor do IPUB, dr. Márcio Versiani, o coordenador de saúde mental do Ministério da Saúde, dr. Pedro Gabriel Delgado. Da OMS vieram os representantes: dra. Maristela Monteiro (assessoria regional sobre abuso de álcool e outras drogas da Organização Pan-Americana da Saúde), dr. Isidore Obot (cientista do Departamento de Saúde Mental e Abusos de Drogas da OMS) e dr. Robin Room (diretor do Centro de Pesquisa Social sobre Álcool e Drogas da Universidade de Estocolmo, Suécia).
Dra. Maristela ressaltou o fato de que todas as substâncias psicoativas são prejudiciais à saúde e os problemas causados por elas devem receber uma resposta proporcional a sua gravidade em termos de saúde pública. Para o coordenador do PROJAD (Programa de Estudos e Assistência ao Uso Indevido de Drogas da UFRJ), dr. Marcelo Cruz, é essencial criar novos dispositivos de assistência pública e buscar a especialização dos profissionais de saúde que lidam com os pacientes em tratamento.
Segundo o relatório, houve um aumento no consumo mundial de álcool e de tabaco. Foi constatado que de 1970 para o ano de 2000, o consumo de tabaco passou de 3,1 trilhões para 5,5 trilhões. Dados do relatório mostram que 8,8% das mortes no mundo são relacionadas ao consumo do tabaco, 3,2% ao do álcool e 0,4% ao de drogas ilícitas, como a maconha, hoje usada por 162 milhões de pessoas no mundo.
Baseado nestes números é que devem ser analisadas e estudadas políticas públicas e tratamentos eficazes para os dependentes em geral, como o direito ao tratamento gratuito e a restrição das propagandas de bebidas alcoólicas. Para o dr. Robin Room, substâncias psicoativas como o álcool são vendidas a preços baixos, como produtos comuns, industrializados em grande escala; além de serem incentivados pela publicidade, o que dificulta o combate ao seu uso abusivo.
Outro ponto importante é o fato de que a dependência é um problema social crônico. No Brasil, por exemplo, o uso ocasional, porém excessivo, do álcool tem gerado problemas para a sociedade, como acidentes de trânsitos, violências doméstica e sexual, além de outras conseqüências sérias. Segundo dr. Isidore Obot, é melhor o consumo mínimo diário como, por exemplo, um cálice de vinho na hora da refeição, do que o abuso por apenas um dia, levando à intoxicação.
A busca por qualquer tipo de substância psicoativa deve ser esperada pela sociedade, na medida em que elas agem nos centros de prazer do cérebro, causando efeitos que incentivam a recorrência no uso. A dependência é uma doença complexa, com mecanismos biológicos que afetam a capacidade de controlar o consumo, porém, esse controle é também afetado por elementos psicológicos, sociais e culturais do ambiente no qual o indivíduo está inserido.
O relatório afirma que a dependência não é falha de caráter e força de vontade, mas um problema de saúde que pode afetar qualquer pessoa. Diante desta premissa, ressalta-se a importância de combater o preconceito e o estigma a que os dependentes estão usualmente sujeitos.