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Desenvolvimento brasileiro entra em debate na UFRJ

No dia 1º de setembro teve início o ciclo de seminários “Brasil em Desenvolvimento”, evento que reunirá representantes do governo e intelectuais no Forum de Ciência e Cultura. O primeiro dia de palestras contou com a presença dos economistas Celso Furtado e Maria da Conceição Tavares.

agencia732T.jpgPensar o desenvolvimento do Brasil a longo prazo. Esse é objetivo do ciclo de seminários “Brasil em Desenvolvimento”, atividade que ocorre todas as segundas-feiras, entre os dias 1º de setembro e 17 de novembro, no Forum de Ciência e Cultura da UFRJ. Intelectuais e representantes do governo são esperados para discutir a realidade sócio-econômica do país.

A abertura do seminário contou com a presença dos economistas Celso Furtado e Maria da Conceição Tavares, do reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira, do diretor da CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), João Carlos Ferraz, e do diretor do Instituto de Economia da UFRJ e organizador do evento, João Sabóia. Antes das conferências, Aloísio afirmou que o ciclo de seminários permitirá à Universidade propor políticas públicas ao país.

Na primeira conferência, Celso Furtado expôs as principais causas dos problemas do Brasil, país que, de acordo com o economista, possui um grande potencial de desenvolvimento, mas não consegue acompanhar o ritmo de crescimento de outras nações do Terceiro Mundo. Para Furtado, as raízes do problema brasileiro remontam ao período colonial, quando se configurou o modelo escravocrata e a dependência externa. A abundância de solo e de litoral permitiu a elaboração de um projeto agrícola de exportação, processo responsável pela concentração de renda e pela dependência de investimentos estrangeiros, fato que se observa até hoje.

Por fim, Furtado, candidato ao prêmio Nobel de Economia de 2004, enfatizou que o primeiro esforço a ser realizado para pôr fim aos problemas do país é a correção da concentração de renda, processo a ser implementado a longo prazo, através de crescimento da economia e renegociação da dívida externa. “A nova geração tem o objetivo de reconstruir o Brasil”, completou.

Responsável pela segunda conferência, Maria da Conceição Tavares ressaltou a necessidade de investimento em infra-estrutura, saneamento básico e programas sociais, o que é impedido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O Fundo não permite o financiamento desses setores por parte da Caixa Econômica Federal e do BNDES. “O Brasil precisa se libertar das amarras do Fundo”, disse. E completou: “Nós devemos discutir olhando para o passado, para aprender com erros, tendo em mente a base produtiva e atacando a maldita concentração de renda”.

Professora emérita da UFRJ, Conceição Tavares discorreu sobre as diferentes etapas do processo histórico do país, que provocaram a concentração de renda e a dependência externa. Ela citou os períodos do Brasil colonial, da ocupação do interior, realizada na década de 50, através de latifúndios, os anos de 1964 a 1980, quando ocorreram exportações de manufaturas de baixa tecnologia, favorecidas pelo câmbio e pela mão-de-obra barata, e a década de 90, época da liberalização financeira, das fusões, aquisições e privatizações.

O ciclo de seminários “Brasil em Desenvolvimento” é uma iniciativa do Instituto de Economia da UFRJ, em parceria com a CEPAL/ONU e com o DDAS/UFRRJ (Departamento de Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro). Estão previstas participações de representantes do governo, como o ministro da Fazenda Antônio Palocci, o ministro da Educação Cristovam Buarque e o ministro do Planejamento Guido Mantega, além de outros intelectuais. Para conferir a programação ou realizar inscrição, consulte o site www.ie.ufrj.br/desenvolvimento .