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Uma orquestra diferente

Para a grande maioria das pessoas, o conceito de orquestra está diretamente associado a erudição, às câmaras fechadas e à figura do maestro segurando a batuta. Este não é o caso da Cyclophonica, a orquestra sobre bicicletas do professor Leonardo Fuks.

Para a grande maioria das pessoas, o conceito de orquestra está diretamente associado a erudição, às câmaras fechadas e à figura do maestro segurando a batuta. Este não é o caso de Leonardo Fuks, professor de Acústica Musical da Escola de Música da UFRJ. Há três anos ele formou,juntamente com outros músicos, a Cyclophonica, uma orquestra sobre bicicletas.

A idéia da Cyclophonica surgiu na época em que professor Fuks estava fazendo seu doutorado na Suécia.
– Estocolmo tem ciclovias para todos os lados, e eu só me deslocava de bicicleta. Na época eu estava envolvido com música de câmara e tocava numa orquestra. E nesse meio eu resolvi experimentar a fusão entre os instrumentos e o ciclismo,– conta Fuks.

Entre uma pedalada e outra, a idéia do Cyclophonica foi tomando corpo. Juntamente com amigos na Suécia, o professor realizou alguns ensaios tocando instrumentos enquanto andava de bicicleta. Apesar de não conseguir formar uma orquestra propriamente, a experiência deu origem ao “Manifesto Cyclophonico”.

– Ao invés de carregar esse projeto como algo apenas artístico, achei interessante colocar isso em um formato que é tradicional, principalmente no século XX. A idéia parafraseia os manifestos dadaístas, cubistas, mas, é claro que também é uma brincadeira, no sentido de que não é um manifesto que vá detonar um processo, mas é um registro. – diz Fuks.

Ao voltar para o Brasil, em 1999, o professor entrou em contato com uma série de músicos profissionais, também ciclistas eventuais, e, com um grupo formado, começaram a trabalhar em cima de algumas idéias musicais e de um projeto elaborado pelo próprio Leo Fuks.

Sucesso internacional
Formada a Cyclophonica, seus integrantes começaram a divulgar seu trabalho pelas ciclovias no Rio de Janeiro. Misturando a música erudita com a popular, os músicos pedalam enquanto executam de “Garota de Ipanema” e “Asa Branca” a “Assim falou Zaratustra”, de Strauss.

As apresentações da orquestra causaram tanta curiosidade que a Cyclophonica foi motivo de matérias em jornais brasileiros, croatas, suecos, espanhóis e portugueses. O professor Fuks viajará, em outubro, para a Universidade Estadual de Maryland, nos EUA, onde ministrará workshops e
fará palestras. Fuks treinará também alunos para acompanhá-lo em apresentações locais na cidade de Frostburg, onde está localizada a universidade, e também em Baltimore.

O convite veio do Comitê de Desenvolvimento da Universidade de Maryland, partindo de uma sugestão do professor George Plitnik, uma autoridade na área de acústica de instrumentos.

O professor Plitnik demonstrou grande interesse nos instrumentos utilizados pela Cyclophonica, quase todos feitos com materiais baratos como PVC, resina, epox e até mesmo fibra de carbono, além de uma infinidade de apitos e buzinas.
– Se você fizer um inventário dos instrumentos existentes, vai perceber que a maioria dos instrumentos podem ser tocados com uma mão só, e em movimento. Além dos instrumentos já existentes, nós também sentimos um interesse em criar e adaptar alguns para nosso propósito. – explica Leo Fuks.

A orquestra Cyclophonica é composta por: Leonardo Fuks (oboísta e professor de Acústica Musical da UFRJ), Sérgio Magalhães (flautista e saxofonista), Manuela Marinho (cavaquinista e educadora musical), Cosme Silveira (fagotista da Orquestra Sinfônica Brasileira), Denise Padilha (flautista e cantora), Sérgio Naidin (percussionista da Orquestra do Teatro Municipal do Rio) e Sheila Zagury (professora de piano e percepção da Escola de Música da UFRJ).