O Conselho de Ensino de Graduação (CEG) e o Conselho de Ensino de Pós-Graduação (Cepg) aprovaram na quarta-feira, 12/11, o fim da exigência de coeficiente de rendimento (CR) acima ou igual a 6,5 para obtenção de bolsa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), no edital de 2024. A medida tem por objetivo dar oportunidades a mais alunos candidatos à bolsa Pibic, atualmente no valor de R$ 700,00 mensais.
A mudança aprovada nos dois conselhos estabelece uma nova redação para o item 8.1b do edital Pibic de 2024. Esse dispositivo exigia CR acima ou igual a 6,5 para indicação de bolsistas. Pela nova redação, a escolha do bolsista fica a critério do orientador, que atesta mérito e aptidão acadêmica do estudante.
“Um valor universal de CR mínimo para um aluno ganhar bolsa Pibic não faz sentido. Existem cursos em que 80% dos alunos têm CR acima de 6,5 e outros que 80% dos alunos têm CR abaixo de 6,5. Ou seja, têm cursos em que apenas 20% dos alunos teriam direito a concorrer à bolsa Pibic”, argumentou o pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa, João Torres de Mello Neto, ao defender o fim da exigência de CR mínimo para concessão da bolsa. “A distribuição de CR não é indicativo da qualidade do curso. Existem cursos muito renomados com média de CR bem alta e outros igualmente renomados com média bem baixa”, avaliou.
Para o professor emérito Adalberto Vieyra, a decisão dos dois conselhos é histórica, uma vez que permite uma avaliação mais “integrada, completa, justa e holística” do desempenho e evolução do aluno em sala de aula. “A restrição do CR certamente impedia ver o conjunto da obra, da carreira, da vocação, da inserção do estudante de iniciação científica dentro de um projeto, dentro de um laboratório, dentro da própria ciência que se desenvolve na UFRJ. Estabelecer uma barreira representada pelo desempenho em sala de aula é não olhar para a vocação do estudante”, observou o professor, ao comemorar a nova redação do edital Pibic 2024.
Opinião semelhante é compartilhada pela professora Thereza Paiva, do Instituto de Física. “Querer enquadrar todas as áreas do conhecimento nas mesmas normas é muito complicado porque as áreas são muito diferentes e têm muitas peculiaridades”, afirmou. “Você pode ter alunos que tiveram um início ruim, mas melhoraram, e, mesmo assim, ainda não têm um CR bom. Eles ficam excluídos desse processo, que é muito importante para a formação do pesquisador”, ponderou.
Critérios
Ao defender a mudança de critérios para a concessão de bolsas, o pró-reitor João Torres apresentou aos conselheiros do CEG e do Cepg dados mostrando as diferenças nos valores de CR entre alunos de vários cursos. Estudantes de faculdades como Música, Jornalismo, Ciências Biológicas, Administração e Artes Visuais, entre outros, geralmente têm CR superior a 6,5. Já a média e a mediana das notas em cursos como Química Industrial, Engenharia Civil, Engenharia Metalúrgica e Engenharia Química são majoritariamente inferiores a 6,5.
Para futuros editais do Pibic, João Torres defendeu o uso de quartis* na distribuição de CR. “Como o edital de 2024 já exigia CR maior que 6,5, não poderíamos utilizar quartis agora porque os alunos que foram selecionados com 6,5 não poderiam perder o direito adquirido à bolsa. Assim, a solução foi não exigir mais CR mínimo neste edital”, explicou o pró-reitor.
Atualmente, a UFRJ concede 2.152 bolsas de iniciação científica de diversas modalidades, no valor de R$ 700,00 cada. O Centro de Ciências da Saúde (CCS) é o líder do ranking, com 766 bolsas. Em seguida, vêm o Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), com 303; o Centro de Letras e Artes, com 286; o Centro de Tecnologia, com 242; e o Centro de Filosofia e Ciências Humanas, que conta com 237 bolsas. Os campi de Macaé e Duque de Caxias dispõem, respectivamente, de 96 e de 51 bolsas.
*Quartis funcionam como marcadores que dividem um grupo de dados, como notas de alunos, em quatro “fatias” de mesmo tamanho, ajudando a entender rapidamente onde a maioria das pessoas se encaixa e quem está nos extremos, como os 25% com os menores ou maiores valores.
