Em outubro, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com a Universidade de Pisa (Itália) publicaram um estudo na revista científica internacional Limnology and Oceanography, que apresenta uma síntese inédita sobre os efeitos do aquecimento dos oceanos em espécies de sargaço, algas formadoras de florestas marinhas em diferentes regiões do planeta. Essas algas pardas mantêm o equilíbrio ecológico, sendo habitat e fonte de alimento para diversas espécies marinhas, além de servirem para capturar o carbono da atmosfera e proteger o litoral da erosão.
Ao combinarem resultados de experimentos em laboratório, observações em áreas expostas à poluição térmica e projeções sobre a distribuição futura dessas algas, os autores revelam que essas florestas estão cada vez mais ameaçadas pelo aumento da temperatura dos oceanos. Em condições experimentais que representam cenários de mudanças climáticas futuras, 75% das espécies de sargaço avaliadas apresentaram queda nas taxas de crescimento.
Nos cenários mais otimistas, é prevista uma redução de até 70% das áreas onde ocorrem algumas dessas espécies. Em cenários mais pessimistas, o panorama previsto é ainda mais alarmante: o aquecimento pode levar ao desaparecimento em mais de 80% das regiões onde hoje são encontradas as algas. Os resultados reforçam a urgência de ações mais ambiciosas para reduzir as emissões de carbono e conter o aquecimento global, antes que essas florestas marinhas desapareçam.
A professora Maria Teresa M. de Széchy, do Departamento de Botânica da UFRJ e coautora do estudo, explica que “o declínio das florestas de sargaço pode agravar os desafios ecológicos e sociais trazidos pelas mudanças climáticas, especialmente quando somados a outros impactos nas zonas costeiras causados pelas atividades humanas. Dentre esses desafios, ressaltamos a conservação e o uso sustentável dos diferentes recursos naturais marinhos, particularmente vinculados à pesca”.
O pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRJ Ivan Carneiro destaca que as florestas marinhas desempenham funções ecológicas essenciais nos oceanos e precisam receber atenção equivalente à das florestas terrestres. “No entanto, enquanto as florestas marinhas de regiões frias já contam com programas de monitoramento e medidas de conservação, as tropicais continuam praticamente negligenciadas”, alerta.
