Quando os alunos da graduação começam a procurar oportunidades para enriquecer o currículo, cursos e estágios são as primeiras ideias que vêm à mente. No entanto, dentro da universidade existem empresas que podem fornecer tais experiências: as empresas juniores, também conhecidas como EJs. Regulamentadas pela Lei nº 13.267/2016, elas são organizações sem fins lucrativos voltadas para a prestação de serviços, criadas pelos próprios alunos para obter experiência profissional já na graduação. Todo valor arrecadado é investido nas próprias empresas e na capacitação dos estudantes, que passam por diversas etapas em processos seletivos e participam de forma voluntária das atividades.
O Movimento Empresa Júnior surgiu na França, no fim da década de 1960, quando alunos da Escola Superior de Ciências Econômicas e Comerciais de Paris se reuniram para fundar a primeira EJ. A ideia era criar um espaço para colocar em prática o conteúdo aprendido em sala e desenvolver habilidades essenciais ao mercado de trabalho. Depois de 23 anos do caso francês, foi a vez de a Minerva ter um exemplar de EJ para chamar de seu: a Empresa de Consultoria em Microinformática (EJCM), fundada em 1990.
O tamanho das EJs
Com diversas empresas espalhadas por todas as universidades do país, a criação de uma associação que organizasse esse setor foi importante. A partir disso, as EJs passaram a ter um caráter mais profissional e com reconhecido impacto no ambiente estudantil. Nacionais e estaduais, elas são representadas, respectivamente, pela BrasilJúnior e RioJunior. Segundo a RioJunior, atualmente há 76 empresas em atividade no estado, com 2.500 membros. Desse montante, 15 são da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com cerca de 500 alunos associados. Em termos de participação, a instituição fica em segundo lugar, perdendo apenas para a Universidade Federal Fluminense (UFF), com 525 alunos.
A RioJunior também possui um critério de classificação a fim de organizar as empresas mais desenvolvidas e maduras do setor. Do 1 ao 5, cada nível é chamado de cluster. Atualmente, a UFRJ registra duas empresas no maior nível de desenvolvimento: a Ayra Consultoria, do segmento de Administração, classificada como “Impacto” no cluster 5, e a Fluxo Consultoria, de Engenharia Civil, posicionada como “Referência”, também no cluster 5. Outras duas EJs se encontram no segundo patamar de maturidade: a Fórmula Consultoria, da área de Farmácia, e a Legado Consultoria Júnior, de Engenharia Química, ambas no estágio de “Consolidação”, no cluster 4.
Para Luiz Fernando Ribeiro, membro da presidência executiva e relações-públicas da RioJunior, a UFRJ é parte importante desse universo. “Quando falamos da UFRJ, estamos falando de uma universidade com empresas supertradicionais, como a EJCM, de 1990, e a Fluxo Consultoria, de 1993”, afirma. Apesar de já existirem empresas tradicionais no mercado, a associação fluminense quer cada vez mais ampliar o número de EJs. Segundo Ribeiro, atualmente a confederação se reúne com cada universidade para entender quais os desafios enfrentados durante a criação de novos projetos. “Também auxiliamos na busca por apoio institucional”, ressalta. “Hoje as empresas precisam de um professor-orientador e de um documento em que a universidade reconheça a EJ. Sem isso elas não podem funcionar.”
Além da participação do corpo estudantil, o impacto econômico das empresas também é expressivo. Em 2022, época de maior faturamento dos últimos cinco anos, as empresas universitárias do Rio faturaram mais de R$ 12 milhões, crescendo 193% em dois anos. No ano passado, esse número chegou a R$ 5,6 milhões. Apesar da queda expressiva no faturamento, o ticket médio das empresas, valor que calcula a média gasta por cada cliente, subiu. Em 2024, o ticket fluminense chegou a R$ 7.247,48, o segundo maior da história.
As empresas da UFRJ foram responsáveis por quase metade do faturamento do ano passado, movimentando cerca de R$ 2 milhões, uma média de R$ 133 mil por empresa, e representaram, entre 2019 e 2024, em torno de 10% a 15% do faturamento estadual, segundo dados da RioJunior. Esses números podem ser maiores, uma vez que existem outras EJs que ainda não estão associadas. Entretanto, os dados já revelam o tamanho desse mercado pouco conhecido.
O pioneirismo da EJCM
A Empresa de Consultoria em Microinformática (EJCM) foi fundada em 1990, sendo a primeira empresa júnior de tecnologia da informação (TI) da América Latina. Sediada no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), na Cidade Universitária, realizava a manutenção de computadores em seus primeiros anos de funcionamento. De lá para cá, a cartela de serviços foi ampliada e hoje atua na área de tecnologia e informação com foco em programação, desenvolvimento de aplicativos, sistemas web e design de identidade visual.
Alunos de qualquer curso podem participar da EJCM e concorrer a vagas na equipe, que já conta com 36 membros. Para Vinícius Souza, presidente da EJCM e aluno de Design, os treinamentos fornecidos durante o processo seletivo permitem que não haja nenhuma restrição de graduação. “Ensinamos tudo do zero para os candidatos”, ressalta Souza. “Treinamos habilidades como design, programação, User Experience (UX) e as demais ferramentas que utilizamos.” Apesar de não restringir os cursos, alguns deles se interessam mais pela empresa. Por a empresa se localizar no CCMN, a maioria dos voluntários é de alunos de Ciência da Computação e Matemática, graduações localizadas no campus-sede.
Com mais de três décadas de fundação, a lista de ex-voluntários da EJCM é extensa. Isso não só reforça a longa trajetória da empresa, mas beneficia os membros atuais, já que é comum encontrar profissionais experientes no mercado que já passaram pela EJCM. “Cria-se um networking com esse universo sênior”, afirma o presidente. “Em 2025 queremos nos encontrar ainda mais com ex-membros para ampliar nosso contato, o apoio e divulgar vagas de emprego, que ajudam nossos membros a acessar o mercado”, revela.
Fluxo Consultoria e seu impacto
A Fluxo Consultoria foi uma das primeiras EJs do país, criada em 1993. Há mais de 30 anos ela desenvolve projetos na área de engenharia, aprimoramento de processos, planejamento estratégico e desenvolvimento de produtos. Sua longa história a consolidou como a empresa com o maior faturamento da UFRJ. Só ano passado, a Fluxo Consultoria faturou R$ 1,3 milhão de reais, mais da metade do total das EJs da instituição. O número reflete-se no reconhecimento, que trouxe prêmios e gratificações.
Entre 2020 e 2022, a Fluxo foi premiada pela RioJunior com o título de “EJ Tri-Alto Impacto” por atingir todas as metas estabelecidas. Durante cinco anos consecutivos, ela foi a empresa que mais faturou no estado, de 2018 a 2022. Para Paulo Vitor Verçosa, presidente da Fluxo Consultoria e aluno de Engenharia Química, o sucesso se dá pelo aproveitamento de contatos e conexões importantes, herança dos mais de 30 anos de existência. “Além de aproveitarmos esse networking, temos membros atuais que são muito motivados”, explica. “A cada projeto, nossa equipe se aproxima cada vez mais de profissionais formados com altíssimo nível, entregando projetos de excelência.”
Para participar da Fluxo, é preciso concorrer em um processo seletivo, que abre inscrições a cada seis meses e não exige conhecimentos ou experiências prévios. Os candidatos passam por quatro etapas: inscrição, apresentação pessoal, entrevistas e duas semanas de imersão na empresa. Assim como a EJCM, não há restrição de cursos, mas os mais representados na equipe são Arquitetura, Design, Química Industrial e Engenharia.
Mais do que números, as empresas juniores representam aprendizados importantes para os alunos. Já na graduação, elas trazem experiências que, para profissionais que traçam carreiras mais tradicionais, demoram anos para acontecer: ser diretor de um setor, comandar uma equipe na confecção de um projeto, ser presidente de uma empresa. São essas experiências que motivam a participação dos alunos. Verçosa afirma que escolheu entrar na EJ porque viu uma oportunidade muito forte de se desenvolver e diferenciar seu currículo ainda na graduação. A autonomia também é um aspecto importante da sua participação. As atividades são lideradas com total autonomia pelos alunos, que, juntos, desenvolvem habilidades enquanto aprimoram currículos.