A alfabetização é um dos pilares da educação, desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento individual e na construção de sociedades mais igualitárias. Mesmo com uma tendência de queda na taxa de analfabetismo no Brasil, o caminho para que esse problema seja mitigado é longo. O Dia Mundial da Alfabetização relembra e acentua a importância de dar atenção para esse tema.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2022 (Pnad Contínua), a taxa de analfabetismo no país diminuiu de 6,1%, em 2019, para 5,6%, em 2022. Isso significa uma redução de pouco mais de 490 mil analfabetos no país. Por outro lado, o Nordeste enfrenta a maior taxa, com 11,7%, enquanto o Sudeste registra a mais baixa, com 2,9%.
A alfabetização transcende a habilidade de ler e escrever. Segundo especialistas consultados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), a definição de alfabetização engloba habilidades essenciais de leitura e escrita que capacitam os alunos a compreender pequenos textos, fazer inferências básicas em textos verbais e não verbais, e produzir textos simples que têm aplicação na vida cotidiana.
Luciene Cerdas, professora do Departamento de Didática da Faculdade de Educação, diz que a meta da escola não se resume apenas à alfabetização, mas também é um meio para permitir que a criança continue seu desenvolvimento. “A alfabetização envolve a apropriação de uma cultura, especificamente a cultura da leitura e da escrita, que é essencial em nossa sociedade. A alfabetização não se limita a adquirir habilidades práticas; é, na verdade, um processo de humanização do sujeito”, pontua.
Esse aprendizado não se resume apenas às habilidades mecânicas ̶ codificação e decodificação ̶ do ato de ler, mas também em interpretar, compreender, criticar, ressignificar e tudo o que leva o indivíduo a colher e produzir conhecimento para si e para a sociedade no geral. A alfabetização é crucial para o desenvolvimento cognitivo e social das crianças, permitindo que elas compreendam o mundo ao seu redor e adquiram habilidades críticas para a vida.
Segundo Luciene, a alfabetização não é apenas um desafio dos primeiros anos da escolarização. “Quando você entra em uma sala de aula de quarto ou quinto ano, encontrará crianças que podem precisar desse auxílio. Portanto, a ideia é estar presente na sala de aula com os estudantes e contribuir para esse processo”, afirma a professora.
O analfabetismo no país
Além dos desafios enfrentados pelas crianças, o Brasil ainda apresenta altas taxas de analfabetismo entre adultos e idosos. Em 2022, 5,6% das pessoas com 15 anos ou mais de idade eram analfabetas. Isso corresponde a 9,6 milhões de pessoas. Desse total, 5,3 milhões residiam na Região Nordeste e 2,1 milhões na Região Sudeste.
Os dados também evidenciam disparidades sociais e educacionais, com uma taxa de analfabetismo de 23,3% entre pretos ou pardos com 60 anos ou mais, em comparação com 9,3% entre brancos na mesma faixa etária. Isso enfatiza a importância de abordar as desigualdades no sistema educacional brasileiro. Essa questão ficou ainda mais evidente na pandemia, quando houve um aumento expressivo no número de crianças que abandonaram a escola.
Segundo a Pnad Contínua, a parcela de crianças de 4 e 5 anos que estavam matriculadas nas escolas do Brasil caiu de 92,7%, em 2019, para 91,6%, em 2022. “É importante notar que essas crianças que abandonaram a escola não eram filhas de famílias ricas, mas sim crianças de famílias pobres que não tinham as condições necessárias para continuar estudando. Portanto, essa questão envolve diversos aspectos interligados”, relata a professora.
A promoção da educação de qualidade desempenha um papel vital na redução do analfabetismo. A integração entre universidades e escolas desempenha um papel vital na alfabetização. Um exemplo de esforços para combater o analfabetismo é o projeto de extensão da Faculdade de Educação (FE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) intitulado “A Parceria Escola e Universidade na Alfabetização das Crianças e na Formação Inicial dos Alfabetizadores”.
Criada em 2017, essa iniciativa trabalha em colaboração com escolas públicas para auxiliar no processo de alfabetização. Luciene Cerdas, professora e coordenadora do projeto, acentua a importância dessa proximidade: “Quando a universidade se aproxima da escola e vice-versa, há um grande potencial para promover a alfabetização. Ter as duas instituições dialogando abre a possibilidade de pensarem juntas e desenvolverem alternativas para aprimorar os métodos de ensino. Isso pode resultar em novas formas de abordar a alfabetização e fortalecer o processo educacional de maneira geral”.
O projeto, atualmente, conta com 12 alunos, em sua maioria do curso de Pedagogia, no auxílio de professores e alunos dos primeiros anos do ensino fundamental. Além de contribuir para o desenvolvimento das crianças com a alfabetização, o projeto também foca em ajudar o universitário a ter uma formação focada nas práticas de ensino da alfabetização da criança. Segundo a professora, o objetivo é tentar oferecer alguma contribuição. “Apesar de ser um projeto pequeno, com poucos estudantes e atendendo apenas uma escola, acreditamos que é importante contribuir ao máximo dentro de nossos limites”, conclui.
Dia Mundial da Alfabetização
O Dia Mundial da Alfabetização, celebrado anualmente em 8 de setembro, é uma data estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) uma data que ressalta a importância da alfabetização no desenvolvimento socioeconômico global e como um direito fundamental de todos os seres humanos.