Ao combinar informações anatômicas do esqueleto bem preservado de um novo réptil encontrado no Brasil, em 2014, e batizado de Venetoraptor gassenae, pesquisadores das universidades federais do Rio de Janeiro e de Santa Maria, além de outras duas instituições internacionais, concluíram que dinossauros e pterossauros evoluíram entre diversos precursores. Os detalhes do trabalho foram publicados neste mês de agosto na Nature, uma das mais conceituadas revistas científicas do mundo.
De acordo com os autores do estudo, a enorme diversidade de dinossauros e pterossauros na era Era Mesozoica começou a florescer entre linhagens divergentes precoces e não apenas após as origens dos gigantes que dominaram a terra e os ares no antigo supercontinente único Pangeia.
Para os cientistas, o “sucesso” de pterossauros e dinossauros foi resultado de uma sobrevivência diferenciada entre um grupo mais amplo no qual estão inseridos. Denominado Ornithodira, esse grupo evoluiu conforme os recursos disponíveis e adaptações ao meio ambiente. Dessa forma, o trabalho dos pesquisadores altera a compreensão sobre a diversidade dos precursores de dinossauros e pterossauros.
A espécie descoberta no município gaúcho de São João do Polêsine pertence ao grupo Lagerpetidae e tinha um crânio com um bico afiado semelhante a um raptor, precedendo os dinossauros por cerca de 80 milhões de anos. Além disso, possuía uma grande mão com garras longas e afiadas, o que certamente estabeleceu a perda do quadrupedalismo obrigatório nessas linhagens precursoras.
A nova espécie de lagerpetídeo tem uma combinação de características inesperadas e foi baseada em um esqueleto parcial, mas bem preservado, desenterrado dos leitos do Triássico Superior do Brasil (cerca de 230 milhões de anos atrás), dos mesmos estratos fossilíferos que produziram alguns dos dinossauros mais antigos do planeta.
Fósseis brasileiros
Com o estudo publicado, fica evidente que a diversidade morfológica e ecológica dos primeiros Ornithodira era consideravelmente mais ampla do que se pensava. Agora, há evidências de vários subgrupamentos a partir de um ancestral comum e todos seus descendentes, viventes ou extintos – como aphanosauros, lagerpetídios e silesauríeos distribuídos em toda a Pangeia”.
De acordo com um dos autores do artigo, o diretor do Museu Nacional Alexander Kellner, as descobertas na paleontologia realizadas com base em fósseis brasileiros têm cada vez mais impactado, em nível mundial, a ciência que procura desvendar a evolução da vida no nosso planeta. “Este novo trabalho descrevendo um pequeno réptil que está em uma posição próxima aos répteis voadores e não muito distante dos dinossauros mostra o quanto ainda temos a descobrir no nosso país. Vai nos ajudar a entender um pouco mais da evolução desses animais fantásticos que dominaram a Era Mesozoica”, afirmou.
A denominação Venetoraptor gassenae mistura a palavra raptor (que em latim significa “saqueador”) com a palavra Veneto, em referência a “Vale Vêneto”, uma localidade turística no município de São João do Polêsine, no Rio Grande do Sul. O epíteto específico homenageia a senhora Valserina Maria Bulegon Gassen, uma das principais responsáveis pela fundação do Centro de Apoio a Pesquisas Paleontológicas (Cappa) da UFSM. “Essa pesquisa demonstra uma interação de diferentes instituições do Brasil e do exterior. O Museu Nacional ficou muito contente em poder participar do estudo inclusive pelo fato de haver uma troca de réplicas que ficaram expostos tanto na nossa instituição como também no Cappa. O museu vai doar uma réplica ‘viva’ da nova espécie e vai receber os ossos do esqueleto que serão montados nas nossas exposições”, concluiu Kellner.