Neste mês de agosto, o Conexão UFRJ traz uma série de reportagens sobre os profissionais da educação de diferentes setores da UFRJ. Eles trabalham diariamente para manter a Universidade um espaço de formação profissional e cidadã.
“Quando não me veem perguntar algo, é porque eu tô entendendo. E quando eu não entendo, eu pergunto”, conta Alcir da Silva, motorista oficial da Superintendência-Geral de Comunicação (SGCOM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sobre as coberturas que acompanha. Curiosidade, conhecimento e proatividade definem o trabalho de Alcir, que, por vontade própria, não faz apenas a tarefa de motorista: está constantemente acompanhando a equipe durante as coberturas, conversa com as pessoas, gosta de entender e aprender, envolve-se nas pautas e, principalmente, está sempre disposto a ajudar no que for preciso. “Eu não faço por fazer. Faço por amor. Faço porque eu gosto.”
Nascido em Duque de Caxias, criado em Macaé e morador de Magé, municípios do Rio de Janeiro, Alcir tem 57 anos e 34 deles passou trabalhando na UFRJ. No trabalho atual como integrante da SGCOM, já são quase 13 anos. Durante esse tempo, ele revela com muito orgulho que aprendeu a operar câmera, mexer com canais de áudio e chegou até a entrevistar um professor. “Eu sempre fui participativo, faço um pouquinho de tudo.” Além disso, Alcir atuou na equipe do Jornal da UFRJ, importante publicação produzida pela então Coordenadoria de Comunicação (Coordcom) de 2003 a 2014, entregando os jornais impressos por todo o campus. Segundo ele, foi um privilégio ter participado da transformação da Coordenadoria em Superintendência.
Um dos episódios mais marcantes para Alcir foi a cobertura da implosão da ala sul do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) em 2010, que ocorreu mais de 30 anos após a inauguração do prédio. Ele conta que a WebTV da UFRJ captou todo o episódio em imagens. “Nós [Alcir e equipe] estávamos ali registrando tudo do início ao fim, tirando fotos e filmando”, diz.
Emocionado, ele conta também do certificado que recebeu como “motorista nota 10”, um programa de cursos de direção defensiva da UFRJ em 2009 para promover a segurança no trânsito dentro da Cidade Universitária. “Isso foi outra coisa que me marcou muito, mas dessa vez como entrevistado.”
Uma história na UFRJ
Antes de se tornar integrante da SGCOM, Alcir passou por muitos setores da Universidade. A sua trajetória começou em 1988, como servente de obras em serviços como a construção da biblioteca do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), localizada no campus da Praia Vermelha. Após um ano, foi remanejado para o Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE), no qual passou pelos cargos de porteiro, recepcionista e administrador. Três anos depois, Alcir iniciou a trajetória como motorista na UFRJ, em setores como a Pró-Reitoria de Extensão (PR-5), onde ficou por 13 anos. Segundo ele, durante o tempo em que esteve na PR-5, fazia os trajetos de estudantes dos projetos de extensão, como o (Des)mancha Brasil e uma iniciativa de pré-vestibular para alunos externos à instituição. Com orgulho, o motorista explica que aprendeu muito em todos esses anos.
“Eu saía daqui 5 horas da manhã, pegava os médicos residentes e nós íamos para Paraty, para Guapimirim… Rodava tudo para levar os médicos e também os remédios. No projeto de pré-vestibular, eu levava os monitores, que eram os alunos daqui, e também os alunos das comunidades para assistir às aulas. Eu ainda guardo um livro da época desse período como recordação.”
Após dez anos na Coordcom, Alcir foi convidado para ser motorista do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia − a Coppe, onde permaneceu durante cinco anos. Segundo ele, antes mesmo de entrar oficialmente no setor, o diretor da época lhe perguntou o que ele fazia “além de ser motorista”. A resposta, então, foi o que o fez ser selecionado. O chefe ficou surpreso. “Eu respondi que faria o que tivesse ao meu alcance e o que eu não soubesse eu procuraria aprender.”
Vivências de preconceito
Alcir é negro e já passou − e ainda passa − por preconceito de cor dentro da Universidade. “Mas eu nunca desisti. Eu não desisto nunca!” Além disso, ele revela que também já vivenciou diversas situações em que duvidaram do seu potencial para fazer alguma tarefa, desde a mais simples à mais difícil.
“Capacidade eu sempre tive, independente de diploma. Mas aqui [na Universidade] o que manda mais é a teoria, e não a prática. Infelizmente, os piores trabalhos para alguns, para nós, porque não sou só eu, são os melhores. É com esses trabalhos que sobrevivemos.”
“Eu amo essa UFRJ”
Apesar de tudo, Alcir não cansa de dizer que ama o que faz e o local no qual está. Trabalhar na UFRJ, “a fábrica de educadores”, de acordo com suas próprias palavras, é um privilégio. Com orgulho enorme da equipe, ele admira os jornalistas, que buscam fazer uma boa matéria: “Dá para ver que a pessoa está fazendo porque sabe a importância daquilo, e não só por fazer”.
Uma vida de lutas
Criado em uma família com 13 irmãos, Alcir desde pequeno percebeu que precisava trabalhar para ajudá-los. Aos 8 anos vendia salgadinhos e bolos na rua. Quando fez 16, teve o primeiro trabalho de carteira assinada como aprendiz de maleiro. Desde então, nunca parou de trabalhar. Hoje, aos 57 anos, tem três filhos e cinco netos. O motorista ainda perdeu um filho de 17 anos para o tráfico de drogas. Dele se lembra emocionado: “Mas você quer saber se eu sou feliz? Sou. E muito grato também”, conclui, sempre com um sorriso no rosto.
Sob supervisão de Vanessa Almeida.