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Forma agressiva de câncer cerebral regride após infecção por vírus

Pesquisadores da UFRJ estudam caso de paciente que contraiu arbovirose e teve regressão de glioblastoma

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer descreveram pela primeira vez um caso clínico que evidencia infecção por flavivírus, gênero de arbovírus que apresenta grande incidência de infecção em todo o mundo, e regressão do glioblastoma, forma agressiva de câncer cerebral de opções de tratamento limitadas e prognóstico pessimista. O caso foi descrito em estudo publicado no Journal Frontiers in Medicine, em Junho.

Em abril de 2016, a paciente recebeu o diagnóstico de que estava com glioblastoma, sendo logo submetida à ressecção cirúrgica do tumor, seguida de tratamento padrão com radioterapia e quimioterapia. Três semanas e meia após a cirurgia, ela foi diagnosticada com uma infecção semelhante à provocada por arbovírus. A infecção causou febre, erupção cutânea e dores musculares, durando sete dias.

Com a infecção curada, observou-se que o glioblastoma havia regredido, com a paciente sem recorrência da doença por mais de sete anos. Acompanhada regularmente com tomografias cerebrais, atualmente se encontra assintomática, saudável, trabalhando ativamente e não faz uso de medicamentos como anticonvulsivantes.

Os pesquisadores disseram que o caso forneceu “uma perspectiva emocionante” de que a infecção viral havia contribuído para a regressão do glioblastoma, possivelmente eliminando as células-tronco do câncer.

Estudos pré-clínicos anteriores mostraram que o vírus da zika pode desencadear a morte de células-tronco de glioblastoma, mas a atividade oncolítica não foi demonstrada em pacientes humanos.

“A reatividade cruzada é uma importante limitação no diagnóstico das arboviroses. Embora não tenhamos condições de afirmar se foi o vírus da zika ou da dengue, pois as amostras de sangue dela ocorreram três anos depois da infecção, encontramos evidências de um caso de atividade natural oncolítica. Tivemos dificuldades em bater o martelo se foi zika ou dengue. Em 2016, havia um surto enorme de zika no Rio, mas consideramos também dengue, que é endêmica na cidade”, explicou a professora Patrícia Garcez, uma das pesquisadoras do artigo.

O vírus da zica, transmitido principalmente pelo mosquito Aedes aegypti, ganhou atenção internacional em 2015 e 2016 devido ao grande surto no Brasil e sua associação com malformações congênitas graves, como a microcefalia, em bebês nascidos de mães infectadas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou uma emergência de saúde pública de interesse internacional em fevereiro de 2016. Desde então, o vírus se espalhou para outros países do mundo.

Os pesquisadores também alertaram que o relato de caso foi limitado a um único paciente e não conseguiu estabelecer a relação causal entre a infecção pelo vírus da zica e a regressão do glioblastoma. Segundo eles, são necessários mais estudos para investigar o uso potencial do flavivírus como nova estratégia terapêutica para o glioblastoma e outros tipos de câncer.

“Esse caso nos chegou graças à divulgação da imprensa sobre nosso trabalho. A paciente entrou em contato conosco e relatou seu caso clínico. Fomos atrás dos médicos envolvidos para investigar mais. É o caso natural de flavivírus atuando como agente oncolítico.”