Após analisar por três anos 200 mil amostras, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Universidade do Norte Fluminense (Uenf) traçaram um panorama sobre a qualidade e potabilidade da água tratada e entregue à população das 92 cidades do estado do Rio de Janeiro. O estudo publicado no jornal científico europeu Water aponta que apenas um terço dos municípios fluminenses tem os parâmetros mínimos necessários para um acompanhamento ideal da qualidade da água.
O trabalho alerta para a situação de municípios populosos, como São Gonçalo e Duque de Caxias, onde os pesquisadores nem sequer conseguiram realizar a análise por falta de dados de monitoramento. Os cientistas criaram um ranking com base em três parâmetros: um físico (turbidez), um químico (cloro residual livre) e um biológico (coliformes totais). “A partir do panorama, estamos propondo um índice ou indicador inédito de qualidade de água tratada para consumo adotando média aritmética”, afirmou o professor Fabiano Thompson, do Instituto de Biologia da UFRJ, e um dos autores do levantamento.
A partir do ranking, os estudiosos criaram quatro grupos, conforme o número de parâmetros que realizam: Grupo A (três), Grupo B (dois), Grupo C (um) e Grupo D (nenhum parâmetro ou não reporta ao Sistema de Informação do Programa de Vigilância de Água para Consumo Humano − Vigiágua). De acordo com Thompson, apenas um terço dos municípios está dentro do grupo A, incluindo a capital, que ocupa a 37ª posição na listagem. A liderança cabe a São José do Ubá, que tem a melhor água potável do estado (com 99,7% de conformidade).
Ao todo, 16 cidades ficaram fora do monitoramento (Grupo D), incluindo Aperibé, Cambuci, Conceição de Macabu, Itaocara, Laje do Muriaé, Santo Antônio de Pádua, São Francisco de Itabapoana, Sapucaia, Vassouras e Cabo Frio. De acordo com Thompson, nas portarias de potabilidade de água do Ministério da Saúde (n° 2914/2011 e n° 888/2021), está preconizado que bactérias coliformes devem estar ausentes na água potável. “A presença dessas bactérias indica que a água está contaminada e poderia, eventualmente, apresentar outros tipos de microrganismos, incluindo microrganismos patogênicos e tóxicos”, destacou.
Para concluir, o pesquisador da UFRJ informou que as análises foram realizadas por meio de duas abordagens, de acordo com a legislação pertinente: uma abordagem quantitativa e outra qualitativa. “A análise qualitativa é aquela que refletiu melhor a qualidade da água. A análise quantitativa refletiu o quanto do número amostral preconizado em portaria foi realizado. Nem sempre os municípios que estão bem ranqueados na análise quantitativa apresentam boa qualidade de água tratada”, finalizou.