A Superintendência-Geral de Comunicação Social (SGCOM) da Universidade Federal do Rio de Janeiro realizou, no dia 11/1, a segunda edição do Fala, Minerva! – evento que busca aproximar a comunidade acadêmica e a sociedade por meio da discussão dos temas mais relevantes no momento. O encontro trouxe como assunto central o futuro econômico do Brasil no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, com foco na política física e monetária, além dos desafios impostos pela realidade mundial.
Para abrir 2023, os professores do Instituto de Economia (IE) Francisco Pires, Margarida Gutierrez e Antonio Luis Licha foram os debatedores convidados do encontro. Pires ressaltou, inicialmente, que o Grupo de Conjuntura Econômica, do qual os três pesquisadores fazem parte, acompanha há décadas o cenário macroeconômico brasileiro, passando por diversos governos, planos econômicos, momentos de recessão e recuperação.
“Períodos como esse que estamos vivendo agora de início de governo são sempre interessantes para analisar, com muita esperança, mas muitos desafios e riscos”, enfatizou.
Ao realizar uma breve análise da economia brasileira nas últimas décadas, o professor indicou o que acredita ser uma das principais saídas para que o país volte a crescer de maneira sustentada: o investimento, com inovação, aumento da produtividade, da capacidade e da demanda.
Gutierrez, dedicada a tratar da área fiscal, apontou que as contas públicas são o que tem desencadeado instabilidade no país na última década.
“Aproximadamente 38% do Produto Interno Bruto (PIB) são intermediados pelo setor público no Brasil. Quando se fala de déficit público, isso significa que o governo precisa buscar no mercado poupanças privadas para se financiar. E, quanto maior é esse volume, menor é o destino desses recursos para financiar o mercado de capitais, as empresas brasileiras e outros projetos. Isso impacta no pagamento de juros”, destacou.
De acordo com a professora, o país tem uma desigualdade de renda enorme, com parte da população vivendo em situação de pobreza extrema. Segundo ela, por isso é necessário que sejam compatibilizados, em curto prazo, programas sociais e de transferência de renda com a sustentabilidade da dívida pública. Assim, é importante criar regras fiscais mais claras e transparentes.
Para Licha, o mundo, principalmente os Estados Unidos e a Zona do Euro, deve crescer menos em 2023. Com dois anos de elevada inflação e crescimento das taxas de juros, o impacto atingirá os países em uma nova recessão. Mesmo com o aquecimento da economia brasileira depois da pior fase da pandemia, com os esforços de vacinação, a tendência é de que o país desacelere seu crescimento nos dados do final de 2022 e início de 2023, em uma reversão cíclica, assim como o resto do mundo. O professor, no entanto, é otimista com os próximos anos, a partir de 2024, e vê um possível retorno a patamares mais altos de crescimento.
Segundo Pires, com base no que se passou em 2022 e no que foi anunciado até o momento no governo atual, espera-se que haja um crescimento de 1% no PIB em 2023. “Com variáveis como a taxa de juros aplicada no ano passado, com efeito agora em 2023; um fator expansionista, que é o crescimento dos gastos públicos, cujo efeito direto irá impulsionar a economia; o possível crescimento da agropecuária; e a desaceleração mundial.” Os dados para análise estão contidos na Lei de Orçamento Anual (LOA) e dependem dos rumos que governo Lula tomará.
Já Gutierrez explicou que não existe um conflito entre responsabilidade social e fiscal.
“Se você tem políticas sociais, um dos requisitos básicos para que elas deem certo é que o país volte a crescer e seja capaz de gerar empregos, já que são todas políticas de curto prazo. Para a economia crescer é fundamental que haja equilíbrio macroeconômico”, defendeu a professora.
Assista à segunda edição do Fala, Minerva! na íntegra no canal da UFRJ no YouTube.