O Fórum de Ciência e Cultura (FCC), órgão integrante da estrutura da UFRJ, realizou, nesta quinta-feira (2/6), o evento de lançamento do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi) e de entrega do título de doutor honoris causa a Noca da Portela. A cerimônia também marcou a reinauguração do prédio anexo à sede do Fórum, na Avenida Rui Barbosa.
Lançamento do Neabi
Raquel Aguiar, pesquisadora e uma das fundadoras do Neabi, foi a responsável pela apresentação do núcleo de estudos. O grupo tem por objetivo apoiar pesquisas e formular iniciativas para resgatar a memória do trabalho acadêmico desempenhado por pessoas negras e indígenas.
O projeto ganha corpo quase dez anos depois de sua idealização. Sua fundação e a vinculação ao Fórum foram aprovadas por unanimidade pelo Conselho Universitário (Consuni) no último mês de maio. “Somos ‘unides’ e assim permaneceremos. Somos um grupo forte que tem certeza de que o Neabi é a UFRJ”, disse Raquel.
A coordenadora do núcleo, Grazielle da Costa, destacou a importância do projeto para a construção do conhecimento. “Passado, presente e futuro dialogam, não rivalizam. Carregam suas contradições, mas estão em constante diálogo”, disse. Para a professora, o resgate da história e da tradição popular é o motor para a transformação do futuro.
Segundo Grazielle, o Neabi carrega a missão de não só fomentar e apoiar ações afirmativas, mas também de trazer esperança para sociedade. “O Neabi não nasce para dentro, ele tem o esforço de potencializar atividades de pesquisa e extensão com o objetivo de fortalecer ações afirmativas pela igualdade racial”, afirmou.
A coordenadora também destacou a importância da cerimônia para a trajetória da Universidade. “Hoje é sem dúvida um dia histórico para a nossa centenária UFRJ. No mesmo dia em que estamos lançando o Neabi, estamos concedendo o título de doutor honoris causa ao Noca da Portela.”
Doutor Noca da Portela
O ponto alto da noite foi a entrega do título de doutor honoris causa a Noca da Portela. A honraria já havia sido dada ao compositor em agosto de 2020, em cerimônia virtual, devido à pandemia. O evento marcou a consagração do artista em uma cerimônia presencial.
Para homenagear o músico, José Sergio Leite Lopes, coordenador da Comissão da Memória e Verdade (CMV) UFRJ, leu em voz alta o parecer entregue para apreciação do Consuni feito pelo FCC. Destacou-se a importância de Noca para o cancioneiro brasileiro e seu papel na contestação da Ditadura Civil-Militar de 1964.
O professor Roberto Medronho fez um discurso emocionado e ressaltou a versatilidade de Noca e sua grandiosidade para a cultura popular. “Suas canções nos acalentam, nos inspiram para o amor e para a luta”, afirmou. A reitora Denise Carvalho, por sua vez, falou sobre a imortalidade de sua obra. “Há mais ou menos dois anos, estávamos celebrando os 500 anos de nascimento de Leonardo da Vinci. Hoje em dia, todos conhecem da Vinci. Saiba, Noca, que, daqui a 500 anos, você será como ele. Você é eterno”, disse.
Emocionado, Noca da Portela agradeceu à UFRJ pela honraria. “Estou recebendo flores em vida, prestes a completar 90 anos”, declarou. O compositor ainda recitou um poema que escreveu sobre a sociedade brasileira: “Brasil, é hora de você virar as divergências, colocar a mão na consciência e pedir a Deus: ‘Orai por nós’”.
Apresentações artísticas
A cerimônia contou com apresentações da Ópera da UFRJ, do Nudafro e dos grupos Vilões da UFRJ e In-Versos UFRJ. A Ópera da UFRJ abriu a solenidade com a apresentação da peça O Engenheiro, que resgatou a memória da luta antiescravagista. Na sequência, o coral mirim da Ópera executou as cantigas folclóricas Pai Francisco e Rosa Amarela no arranjo de Villa-Lobos. O grupo ainda cantou a música tema do filme A Noviça Rebelde.
No intervalo, o grupo Nudafro apresentou um número de dança. O encerramento ficou por conta dos grupos Vilões da UFRJ e In-Versos UFRJ, que fizeram uma roda de samba com a participação de Noca da Portela.
Esse texto é uma adaptação do original escrito pelo jornalista Samuel Costa(FCC / UFRJ).