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Ossada de baleia é presente de aniversário do Museu Nacional

Esqueleto do animal encontrado no Ceará ficará em exposição na Cidade das Artes

No dia de seu aniversário, 6/6, o Museu Nacional (MN/UFRJ) deu um presente aos moradores do Rio de Janeiro: a abertura da exposição “Que baleia é essa?”, na Cidade das Artes, Barra da Tijuca. Medindo cerca de 16 metros, o esqueleto de uma baleia-cachalote (Physeter macrocephalus) ficará pelos próximos dois anos em exibição no foyer da sala de concertos e poderá ser visitado pelo público. A exposição permite que os visitantes tenham a oportunidade de conhecer detalhes sobre a espécie, dados sobre o encalhe do animal em uma praia cearense, a preparação do esqueleto para a mostra, além de informações sobre os cetáceos do Rio.

A baleia-cachalote, ou chacharréu, é o maior animal com dentes do planeta, chegando a medir 20 metros. A enorme cabeça e as características únicas tornaram a cachalote o arquétipo de “baleia”, figura imortalizada na literatura e no cinema com o romance Moby Dick, do escritor norte-americano Herman Melville. O imenso cetáceo alimenta-se de lulas, polvos, peixes, raias e tubarões, mas a capacidade de mergulho é uma das características mais marcantes da espécie – pode mergulhar a 3 mil metros de profundidade e ficar submersa por até 90 minutos. O esqueleto do MN é de um adulto do sexo masculino que encalhou na Praia de Curimãs, município de Barroquinha, no Ceará, em janeiro de 2014. 

Para o diretor do MN, Alexander Kellner, a chegada da baleia-cachalote permite que o Museu  explore temas e desenvolva inúmeras pesquisas relacionadas à biodiversidade. “O esqueleto doado à instituição tem uma importância ainda maior pela forma como chegou até nós, como mais uma conquista da campanha #Recompõe, lançada em 2021 e voltada para a recomposição do acervo expositivo do Museu Nacional da UFRJ. Essa baleia é a primeira peça de grande porte que o museu recebe. A gente monta aqui para que o público já tenha um gostinho do que poderá ver quando o museu abrir suas novas exposições”, disse Kellner.

A montagem da exposição foi financiada pelo governo da Alemanha, com o apoio do Projeto Ilhas do Rio e do Funbio − Projeto de Apoio à Pesquisa Marinha e Pesqueira é uma medida compensatória estabelecida pelo Termo de Ajustamento de Conduta de Responsabilidade da empresa PetroRio, conduzido pelo Ministério Público Federal (MPF) do Rio. De acordo com o presidente da Cidade das Artes, Claudio Versiani, exposições temporárias dessa magnitude darão aos visitantes uma experiência visual de alto impacto, enquanto se espera a reforma completa do Museu. “Conseguir montar, na Cidade das Artes, um esqueleto de cachalote com 15 metros de extensão é um ativo inédito para os frequentadores de nossa instituição, mais acostumados a eventos artísticos. É puro poder de encantamento, ensinamento, representação ambiental e, sobretudo, uma viagem ao incrível mundo animal”, destacou.

O esqueleto da cachalote será apresentado em uma base de ferro com a altura de 1,5 metro. A exposição contará também com duas vitrines próximas à base do esqueleto, com os dentes da baleia, o ouvido interno e um modelo tátil de baleia-cachalote em vida, para permitir o contato com a peça, primando pelos recursos de acessibilidade. O projeto de iluminação, inspirado na cor azul, foi pensado no sentido de valorizar visualmente o esqueleto e estará acompanhado de efeito visual remetendo aos oceanos. Além disso, totens apresentarão informações relacionadas ao esqueleto e à espécie, imagens de cetáceos do Rio de Janeiro, um vídeo contando a história dessa baleia, fichas técnicas e informações institucionais.

O cônsul-geral da Alemanha no Rio, Dirk Augustin, destacou, no lançamento da exposição, a retomada das exposições do MN em vários espaços da cidade: “Apoiamos financeiramente com 1 milhão de euros desde 2018 para as obras de restauração e reabertura, em 2027. Com a contribuição financeira de 24 mil euros (aproximadamente 143 mil reais) do governo alemão, foi possível fazer a montagem e preparação dessa imponente baleia, exposta na Cidade das Artes, de forma acessível ao público”.

O biólogo Antônio Carlos Amâncio foi o responsável pela montagem do esqueleto na exposição. Ele explicou que, na época em que foi encontrada morta, a única opção havia sido enterrar o animal na própria praia, no litoral do Ceará. Amâncio contou, ainda,  que, seis anos após a baleia ter sido enterrada, o estado de conservação estava muito bom, com 96% da estrutura óssea preservada. “Esse é um animal raro de ser encontrado nessa região da América do Sul. Temos muitos encalhes de outras espécies no país, mas nem sempre o esqueleto fica tão preservado como esse, que perdeu apenas pequenas partes das falanges, com o tempo e as atividades para remoção da ossada”, disse.

A exposição “Que baleia é essa?” é gratuita  e poderá ser visitada todas as terças e quintas-feiras, das 10h às 18h, e aos sábados, das 10h às 16h, mas com agendamento prévio, que poderá ser feito pelo e-mail educativo.cidadedasartes@gmail.com ou pelo telefone (21) 3325-0448.

Convênio com Portugal

Presente na cerimônia de abertura da exposição, a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, anunciou, com o biólogo Nuno Ferrand, que representava os museus nacionais das universidades do Porto, Lisboa e Coimbra, uma parceria que possibilitará em breve a assinatura de convênio para oferecer 50 bolsas de doutorado a pesquisadores para a realização de estudos com foco essencial no Museu Nacional. “São bolsas de doutoramento mistas, para pessoas de qualquer nacionalidade, de qualquer parte do mundo, que têm de ter, obrigatoriamente, como instituições de acolhimento, os museus de história natural e da ciência em Portugal e o Museu Nacional. Essa parceria tem apoio do Ministério da Ciência, da Tecnologia e Ensino Superior de Portugal”, informou Ferrand.

A reitora da UFRJ (com o microfone) espera captar mais recursos para o Museu Nacional ser entregue em 2027 | Foto: Sidney R. Coutinho (SGCOM)

O projeto de recuperação do MN, no ponto de vista da professora Denise, não é apenas da Universidade, mas um legado para a humanidade. “Em breve, o museu será um ponto turístico importante para ser visitado por pessoas de todo o mundo. Os museus de história natural são centros de pesquisa, e nós comemoramos 204 anos dessa instituição científica que é uma das mais antigas de nosso país. Durante a pandemia, vimos a importância da ciência e do conhecimento para que a humanidade possa enfrentar os problemas diversos que existem e aqueles que ainda nem sabemos existir. O MN tem vários cursos de pós-graduação, que ficarão em um centro de pesquisa, mas ele também é um local no qual estudantes em todos os níveis podem aprender”, pontuou Denise Pires de Carvalho.

Para permitir que o Paço Imperial de São  Cristóvão (o prédio onde viveu a família imperial e que abrigava o MN no passado) seja inteiramente dedicado a exposições e atividades educativas, será também implementado um campus de pesquisa e ensino, em terreno de 44 mil metros quadrados ao lado da Quinta da Boa Vista, que já abriga um módulo administrativo em funcionamento. No local, está em construção um novo Centro de Visitação Educativo.

De acordo com a reitora, as obras ocorrem em várias frentes, mas é preciso paciência para que elas aconteçam da melhor forma, além de recursos. “Os recursos captados estão em torno de 60% para as obras. Queremos o museu aberto o mais rápido possível, mas o processo é lento. Espero que em 2027 possamos reabri-lo, que apareçam novos patrocinadores e outros países nos ajudem, para recebermos de volta todos os visitantes.”

O valor estimado para a recuperação do prédio do Paço Imperial é de 380 milhões de reais. No entanto, é importante deixar claro que o Museu não era só um espaço de exposição, mas de pesquisa e ensino também. E as verbas para a construção do campus que servirá para receber os laboratórios ainda não estão asseguradas. “O que temos lá é um espaço provisório, que deve durar uns dez anos, mas temos que pensar como ele deverá se tornar permanente um dia”, lembrou o diretor do Museu Nacional.

Segundo a reitora da UFRJ, o bloqueio de verbas que o governo federal realizou recentemente compromete todo e qualquer investimento para ampliar a Universidade. “Hoje, o orçamento discricionário (verba federal para pagamento de serviços públicos, contratos e investimentos) está, na maior parte, comprometido com contratos. Na área provisória já existente é preciso que tenhamos a contratação de seguranças e equipes de limpeza, por exemplo. À medida que há cortes de recursos orçamentários, haverá também o comprometimento do Museu Nacional. Gostaríamos que as universidades mais antigas do Brasil fossem vistas de outra forma, para que o patrimônio histórico, os prédios históricos tivessem um orçamento distinto”, finalizou Denise.