Atrasada para a escola, Aisha acordou Hana aos gritos. Sobressaltando-a, pôs-se a ajeitar os turbantes alaranjados e o icharb púrpura de sua irmã. Aisha, que já estava pronta, havia realizado a oração Salat Farj momentos após o sol se insurgir no horizonte. Àquela altura, Amim e Azizi as aguardavam na estrada de terra que os conduziria à cidade. Todos vibravam para ir à aula do mestre Omar sobre a natureza sagrada das flores. Entusiasmada, Hana se conduzia com extremo cuidado para não amassar as pétalas dos hibiscos que levava. Sonhara com um campo repleto deles na noite passada e se alegrava pela beleza da obra de Ala. Tudo porque dali a três noites seria seu sexto aniversário, então a pequenina idealizava os tipos de arranjos e ornamentações florais para a comemoração. Na porta do colégio, o Sr. Jamal, à frente da direção há trinta anos, avistou-os de longe. E, antes deles, uma confluência crescente de alunos se aglomerava na entrada da escola, levando consigo amostras diversas da flora local. Eles caminhavam, e corriam, e avançavam apressadamente uns sobre os outros, e assim as músicas se puderam ouvir cantaroladas por algumas meninas, quando então palmas e festejos animaram cada um a formar uma roda viva no meio do pátio. A alegria e a animação eram contagiantes. Como que tomados por força divina, eis que não apenas com os lábios e as palmas, mas agora com os pés, participavam daquela festança. Pulavam e saltitavam cada vez mais forte com os braços entrelaçados, até que do alto um estrondo se ouviu. Branco, tudo se tornou branco. Gritos, alguns gritos. As colunas que sustentavam o prédio, bem como o prédio, vieram abaixo após o barulho. Flores, óculos, corpos, túnicas, mochilas, sapatos. E mais gritos. Tudo ficou branco. Era o tom da poeira que cortava os céus de Alepo.
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Conexão Literária #5: Flores de Alepo
Conto de Denilson de Souza mostra a mudança causada por um instante