Categorias
Pelo Campus

Rolé UFRJ #2: Museu da Geodiversidade

Espaço busca unir passado e presente geológico numa leitura sobre a evolução da Terra

Diversas camadas de rochas e minerais formam o que conhecemos como planeta Terra. Do níquel e ferro de seu núcleo aos animais fossilizados, os elementos geológicos podem nos mostrar a história do mundo, dos seres que passaram por ele e, até mesmo, do desenvolvimento da sociedade.

Em comemoração ao Dia Internacional dos Museus, o Rolé UFRJ visitou o Museu da Geodiversidade (MGeo), que faz parte do Instituto de Geociências do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (IGeo/CCMN). Localizado na Cidade Universitária, o local passa atualmente por uma ampla reforma para renovação do seu espaço.

O Museu da Geodiversidade foi inaugurado em 2008, mas sua história começou muito antes. Quando Dom João VI chegou ao Brasil, em 1808, trouxe consigo uma importante coleção mineralógica que influenciou as pesquisas de geociências em todo o país. Após passagem por uma série de instituições militares, o acervo foi incorporado em 1874 pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, que anos depois se tornaria a Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, a atual UFRJ.

Até os anos 1950, a área de geologia era composta principalmente por engenheiros e naturalistas formados em universidades brasileiras, ou por geólogos oriundos do exterior. Em 1961, foi criada a Escola Nacional de Geologia, que posteriormente se fundiu com o curso de Geologia da Universidade do Brasil – dando origem, anos depois, ao Instituto de Geociências (IGeo) da UFRJ.

Todo esse movimento permitiu a formação de uma área de pesquisa mais bem estruturada, unindo as coleções de todas as instituições em um único acervo sob guarda do IGeo. Para comemorar os 50 anos da criação do primeiro curso de Geologia no país, foi inaugurado, em 2008, o Museu da Geodiversidade, reunindo parte do acervo – que antes ficava apenas trancado em armários – e permitindo seu acesso ao público.

Espaço conta a história do planeta por meio das Geociências | Foto: Artur Moês (SGCOM/UFRJ)

Nesta edição, conversaram com o Rolé UFRJ Katia Mansur, diretora do museu; Aline Rocha, vice-diretora; e Márcia Diogo, coordenadora do Núcleo GeoEducativo. As profissionais enfatizaram que a criação do Museu da Geodiversidade teve como objetivo contribuir para a preservação de parte da história do planeta, assim como divulgar para a sociedade a importância dos elementos que compõem a diversidade geológica.

Apoiada com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a primeira exposição – A Geodiversidade Brasileira – permaneceu no museu por menos de um ano, trazendo minerais, rochas, fósseis e equipamentos e objetos históricos do curso de Geologia. Em 2010, o espaço foi realocado e passou a abranger todas as Ciências da Terra, como Astronomia e Meteorologia.

Em 2011, também com apoio da Faperj, o Museu da Geodiversidade ganhou a mostra de longa duração Memórias da Terra, com ferramentas tecnológicas, réplicas de esqueletos de dinossauros e outros animais, além dos fósseis, minerais e rochas.

“Ao atuar na divulgação científica, em especial das Ciências da Terra, buscamos possibilitar a compreensão do porquê, onde e como ocorrem os terremotos, furacões, vulcões e mudanças climáticas, de forma acessível e lúdica. Memórias da Terra é nossa principal exposição e busca contar a história do planeta e dos seres vivos que nele habitam e habitaram ao longo do tempo”, contam as especialistas.

O MGeo tem uma equipe interdisciplinar de servidores composta por geólogos, museólogos e educadores, além de auxiliares administrativos e porteiros. Também fazem parte da equipe bolsistas de extensão e de iniciação científica, alunos curriculares de extensão e pesquisadores colaboradores. Entre as principais ações desenvolvidas atualmente estão a salvaguarda do patrimônio científico do Instituto de Geociências, o atendimento ao público na exposição, o desenvolvimento de roteiros mediados para diferentes públicos e de atividades educativas temáticas e a promoção da acessibilidade e inclusão.

Como o Museu da Geodiversidade está vinculado ao Instituto de Geociências, ele ocupa alguns dos espaços dessa unidade. A exposição de longa duração Memórias da Terra abrange uma área de 600m² e a parte administrativa do museu ocupa uma sala do instituto com cerca de 35m². É possível utilizar algumas instalações próximas da unidade mediante agendamento, a exemplo do Centro de Estudos de Mudanças Climáticas e Ambientais (Cema), um espaço multiuso com cerca de 275m² que possui banheiros acessíveis e auxilia o MGeo com cessão de auditório, montagem de exposições temporárias e desenvolvimento de atividades educativas. O Auditório Pangea também está aberto para o uso mediante agendamento e tem capacidade para 100 pessoas.

“Para acondicionamento do acervo que não está em exposição, o museu utiliza espaços cedidos por professores, como o Laboratório Geodiversidade e Memória da Terra e o próprio Cema. Isso ocorre porque ainda não possuimos um espaço próprio para acondicionamento do acervo e reserva técnica”, explicam.

Em 2019, o Museu da Geodiversidade recebeu cerca de 8 mil visitantes, em sua maioria alunos de escolas públicas e particulares de ensino fundamental e médio do estado do Rio de Janeiro, além de alunos da própria UFRJ. A instituição vem aprimorando suas estratégias de comunicação e parcerias para atingir os mais diversos públicos. Grupos de idosos, pessoas com deficiência física e intelectual, além de estudantes do período noturno, vêm sendo cada vez mais recebidos. Além disso, tanto o museu e quanto a exposição são objetos de pesquisa em projetos de mestrado e doutorado da UFRJ e de outras universidades.

“Para nós, sempre foi fundamental estabelecer com o público uma relação que busque encantar as pessoas pelas Geociências e suas particularidades, auxiliando na compreensão da natureza e das relações da sociedade com o patrimônio natural, no tempo e no espaço. Esperamos em breve poder voltar a receber o público em nossa exposição, buscando diferentes formas de interação e de comunicação.”

O planeta explicado

Coração do museu, a exposição Memórias da Terra conta a história do planeta por meio de uma narrativa cronológica e expõe um acervo composto por fósseis, minerais, rochas, meteoritos e reconstituições diversas em tamanho real, contextualizadas pelos ambientes em que esses elementos se formaram. “Em muitos aspectos foram utilizados recursos estéticos e tecnológicos para atrair a atenção do nosso público e continuar a sedução por meio da rica e interessante história do mundo.”

Ao entrar no espaço, é possível identificar, logo de primeira, como a Terra era nos seus primórdios. Um planeta cheio de crateras e ainda sem vida. Logo depois, podem-se ver os movimentos das placas tectônicas, os terremotos e as formações de vulcões que transformaram a superfície como a conhecemos hoje.

A segunda sala é dedicada às rochas e minerais, com belos exemplares de quartzo, cristais, moscovitas, zequitas e muitas outras. Por meio desses materiais, é possível conhecer algumas formações rochosas e perceber como até os mesmos elementos, em situações específicas e em contato com outras substâncias, podem gerar cores e texturas tão distintas. A sílica, por exemplo, está presente em muitos tipos de rochas, podendo ser vista na exposição tanto na translucidez dos quartzos quanto na opacidade dos feldspatos.

A seguir é possível acompanhar o início da vida no planeta, principalmente onde ela começou: nos mares. Uma variedade de animais fossilizados – como crustáceos, amonitas e gastrópodes, além de conchas – está exposta ao visitante.

“Possuímos rochas e minerais variados, encontrados tanto aqui no Brasil como no exterior. Alguns dos destaques dessas áreas são um fragmento de uma rocha do grupo Ishua – onde se encontram os vestígios de vida mais antigos do planeta, com 3,8 bilhões de anos – e um geodo de ametista de grandes dimensões, formado no interior de um vulcão há cerca de 120 milhões de anos.”

A exposição segue e, junto dela, os animais retratados vão se tornando maiores e mais complexos. Dos peixes e grandes répteis marinhos aos enormes dinossauros, ponto alto para as crianças e adolescentes que visitam o museu. Lá, chamam a atenção pelo tamanho e grandiosidade as reconstituições de várias espécies encontradas no Brasil, como o Uberabatitan ribeiroi, o Amazonsaurus maranhensis e o grande jacaré Purussaurus brasiliensis. É possível, inclusive, passar por debaixo de um deles e observar como era sua ossada.

A última parte da exposição mostra a transição para os mamíferos, como a Carodnia vierai, que pesava aproximadamente 450kg e viveu na Bacia do Itaboraí, o mais antigo registro brasileiro da fauna e flora fóssil de origem continental que se desenvolveu há aproximadamente 60 milhões de anos, após a extinção dos dinossauros.

Por fim, Memórias da Terra mostra também o surgimento do homem e seu impacto na Terra, principalmente a partir da busca do desenvolvimento econômico e da exploração do meio ambiente. “Temos pinturas e esculturas de organismos pré-históricos, denominadas de paleoarte, que compõem o acervo e são frutos da união entre arte e ciência.

A paleoarte é um dos destaques que mostra os sinais da humanidade na Terra | Fotos: Artur Moês (SGCOM/UFRJ)

Além do acervo disponível ao público, o Museu da Geodiversidade conta com peças que atualmente estão guardadas em outros espaços da UFRJ. Segundo os servidores, até o momento foram catalogados, total ou parcialmente, cerca de 300 objetos, como instrumentos de laboratório, modelos e recursos didáticos, reconstituições de animais extintos, pinturas, rochas, minerais e fósseis. Entre os objetos estão ainda instrumentos científicos de observação, medição e registro das áreas da Física, Química, Meteorologia, Mineralogia e Geofísica, além de instrumentos e materiais para ensino. O destaque é o barógrafo centenário Anciennes Maison Richard Frères – Jules Richard, doação do professor José Marques. O instrumento é utilizado em estações meteorológicas para medir e registrar continuamente as variações de pressão atmosférica. É o objeto que estabelece o marco inicial da coleção, no século XX.

Barógrafo centenário faz parte do acervo do Museu da Geodiversidade | Foto: acervo MGeo

“Além de um acervo rico e diversificado que nos permite conversar sobre as modificações ocorridas no planeta Terra ao longo do tempo, buscamos valorizar o patrimônio geocientífico brasileiro e a ciência produzida em território nacional. Esse acervo de valor científico ganha significado a partir do contexto em que é inserido nas exposições e das correlações que podem ser feitas por meio de ações do setor educativo”, ressaltam.

Um espaço de inclusão

Não só de exposições é feito o museu, mas também de divulgação científica e atividades voltadas ao público externo, principalmente de educação e inclusão.  A maior parte das atividades educativas acontece durante visitas com  grupos agendados; outras podem ser realizadas em eventos externos ou em escolas da educação básica. Todas essas ações são elaboradas e conduzidas pelos representantes do MGeo. O conjunto de atividades é diversificado: jogos colaborativos, oficinas, contação de história e visitas mediadas. Enquanto o espaço ainda está em manutenção, é possível realizar, de forma on-line, uma visita mediada a partir das plataformas Google Meet ou Zoom. A ação foi idealizada durante a pandemia como uma forma de manter contato com o público, mesmo com a exposição fechada.

“O Museu da Geodiversidade localiza-se em uma região do Rio de Janeiro cercada por bairros de baixa renda, cuja população possui pouco acesso aos equipamentos culturais existentes na cidade. As possibilidades que se abrem com a aproximação entre comunidades externas e campus universitário reforçam o caráter social do museu, estimulando a elaboração de projetos de pesquisa e de extensão voltados para uma divulgação científica acessível”, defendem.

De acordo com a equipe, o MGeo tem se concentrado em reduzir e eliminar as barreiras existentes nos espaços do museu, a fim de garantir mais acessibilidade para o público. Uma parte relevante desse processo é a formação de uma equipe interdisciplinar com discentes dos cursos de Terapia Ocupacional, Geografia, Geologia, Arquitetura, Computação, Letras-Libras e Comunicação Visual; além de museólogos, pedagogos, educadores e docentes, que atuam em diversas frentes de trabalho.

Entre os principais itens de acessibilidade presentes no museu estão recursos táteis, como um globo terrestre multissensorial, mapa tátil do ambiente expositivo, jogos sobre as Geociências, textos e legendas em Braille; e a criação de um aplicativo com conteúdo em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e audiodescrição. Além disso, a equipe vem se capacitando na área e repensando os aspectos arquitetônicos e atitudinais, que acabam afastando as pessoas que precisam de ambientes acessíveis.

“Essas ações são concebidas de modo transdisciplinar e articulado, pois envolvem não só profissionais – graduandos e pós-graduandos de áreas diversas –, mas também laboratórios de diferentes setores dentro e fora da Universidade. Elas são frutos do debate entre a equipe e as demandas da sociedade, que se consolidaram na premissa de que as iniciativas estejam disponíveis para todos os visitantes. Por fim, buscamos atender ao lema ‘Nada sobre nós sem nós’, inserindo a pessoa com deficiência em todos os processos de uma ação e não apenas na validação final.”

Um exemplo da inclusão das pessoas com deficiência na elaboração das ações são as parcerias com o Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines) – a partir da qual são promovidas visitas mediadas em Libras para alunos do ensino fundamental e médio, buscando a metodologia mais adequada para a comunidade surda – e com o Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da UFRJ, por meio de projetos de extensão voltados prioritariamente para crianças e jovens com deficiência intelectual.

“Nos últimos anos a equipe do Museu da Geodiversidade vem se deparando com inúmeros desafios no campo da acessibilidade, como o de aumentar a demanda por visitas de pessoas com deficiência ao museu, num processo de formação de público. Essa não é uma tarefa fácil, mas os apontamentos realizados nesse trabalho podem contribuir para que as ações de divulgação do patrimônio geológico sejam inclusivas e atendam a todos”, concluem os pesquisadores.

Localização

O Museu da Geodiversidade fica na Avenida Athos da Silveira, 274, na Cidade Universitária. Embora o espaço esteja fechado para reformas, os interessados em conhecer a exposição Memórias da Terra podem agendar uma visita guiada pelo espaço por meios digitais. Basta enviar um e-mail para agendamuseu@igeo.ufrj.br e aproveitar!

Saiba como se localizar na Cidade Universitária (Ilha do Fundão) | Imagem: Guilherme Vairo e Heloísa Bérenger (Coordcom/UFRJ)

Você já conhecia o Museu da Geodiversidade? Poste uma foto com #RoléUFRJ ou use nossas figurinhas no Instagram. É só procurar por “@ufrj” e aproveitar. Acompanhe as próximas edições do Rolé UFRJ e sugira outros espaços para visitação.

Conheça os outros espaços visitados pelo Rolé UFRJ aqui.