Olhei pra você e constatei que sim
Cada lágrima sua de tristeza e dor
De suor e gozo
De certeza e fé
Cada uma delas
É motivo pra eu atear fogo no mundo
Por você
Nem me importa mais qual mundo
Se é daqui ou dali
Se pra chegar eu preciso subir
Três montanhas, um Kilimanjaro
Pegar um barco a velas furado
Deixar minhas economias num beco escuro
E sair só com um trocado
Depois de três noites sem dormir num ônibus apertado
E de dividir com 300 estranhos o mesmo baseado
Que eu nem fumo, pra constar
Não me importa
Se eu tiver que subir numa nave
Voltar de Marte
De um espaço-verdade
Conversar com um piloto com mais de 500 anos de idade
Descobrir a fórmula da eterna novidade
Pra depois acabar com ela
Com o fogo que eu vou colocar ali
Por você
Não importa até que você não queira
Que me ache encrenqueira, bagunceira
Especialista em se jogar da ponte na beira
Só com um elástico amarrado no pé
E um capacete protegendo a moleira
É que eu sou tóxica, intensa, maluca
Esse povo que ama além da própria cuca
E acha que todo mundo tem que amar também
É, eu sou assim
Mas não precisa ter medo
Lembra que aqui tem declaração de cabeça pra baixo
Que quando você vem eu já sei como encaixo
Aqui tem noite quente que é onde eu me acho
E mais um termômetro quebrado
Que não dá conta de medir nosso facho
Mas tem vezes que o que a gente precisa mesmo
É pôr fogo no mundo por quem a gente ama
Deixar sobrar só o que respeita a chama
Aquela chama
Que veio antes da gente, de mim e de você
* Poesia faz parte do show-performance afrofuturista Pretambulando