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Ciência e comunicação caminhando juntas

“Se a gente juntasse todos os coronavírus já produzidos por pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 até agora, qual o volume isso ocuparia?” Essa pergunta foi feita pelo pesquisador Rômulo Neris durante sua participação no I Encontro sobre Divulgação Científica da UFRJ, evento organizado pelo Fórum de Ciência e Cultura (FCC) e realizado em 15/7 como parte do Festival do Conhecimento. Entre as alternativas estavam uma latinha de refrigerante, o espaço do porta-malas de um carro, uma piscina infantil e um estádio de futebol. Acertou quem respondeu a primeira opção.

Essa é uma das formas que Rômulo tem utilizado para fazer a ciência se aproximar do cotidiano das pessoas. Doutorando em Imunologia e Inflamação pela UFRJ, ele faz parte da Equipe Halo junto com outros especialistas selecionados pela Organização das Nações Unidas (ONU) para desmistificar informações falsas sobre processos de infecção viral, em especial a COVID-19. Muito atuante no TikTok, ele utiliza uma linguagem acessível para desmentir fake news e explicar conceitos científicos, como, neste caso, o tamanho do vírus: ele é tão pequeno que, apesar de ter infectado quase 200 milhões de pessoas no mundo, o volume de todos juntos caberia em, no máximo, duas latinhas de refrigerante.

Realizar divulgação científica é um dos papéis da Universidade. Mas como fazer isso chegar ao público que não tem acesso a revistas científicas, congressos etc? Na mesa, foram apresentados diversas iniciativas que têm como objetivo levar a ciência para mais perto do dia a dia da comunidade, a exemplo do projeto de extensão Astronomia para Poetas, realizado desde 2009 pelo Observatório do Valongo, e a exposição “Aventura pelo Corpo Humano”, realizada em 2019 pela Casa da Ciência com atividades didáticas e divertidas para o entendimento do nosso corpo. Esta última teve mais de 30 mil visitantes e um alcance de mais de 1 milhão de pessoas durante o evento virtual.

Ao trabalhar a interdisciplinaridade e a interatividade, esses e outros projetos da UFRJ têm conseguido tornar a ciência mais acessível, principalmente em meio a um período que a professora do Instituto de Biologia Christine Ruta, uma das participantes do encontro, denominou “infodemia”. Segundo ela, durante a pandemia do coronavírus, foram produzidos mais de 361 milhões de vídeos no YouTube abordando o vírus. Em contrapartida, o Google Acadêmico registra apenas cerca 19 mil artigos científicos sobre o tema, reforçando a necessidade de informações confiáveis e verídicas adentrarem as mídias sociais e outros meios de comunicação de maior alcance.

Participantes do I Encontro sobre Divulgação Científica da UFRJ. | Reprodução: YouTube

Na mesa, que contou com mediação de Tatiana Roque, coordenadora do FCC, estiveram presentes também representantes do Observatório do Valongo (Silvia Lorenz), da Casa da Ciência (Renata Zapelli) e da Coordenadoria de Comunicação­ – Coordcom (Ana Carolina Correia). Tatiana trouxe a proposta que o FCC tem desenvolvido: a criação de uma Superintendência de Difusão Científica (SuperCiência), que ficaria responsável pela elaboração de uma Política de Divulgação Científica em parceria com os demais órgãos, como a Coordcom, as pró-reitorias, e outros.

Jornalismo Científico

Uma das facetas relevantes da divulgação científica é o jornalismo científico. Ana Carolina Correia, jornalista da Coordenadoria de Comunicação (Coordcom) da Universidade e responsável pelas editorias de Saúde e Tecnologia do Conexão UFRJ, também participou do encontro. Ela apresentou as diferentes formas a partir das quais o jornalismo científico tem sido realizado pela equipe, dando destaque não apenas a reportagens, mas a infográficos, fotografias e vídeos.

Este tema também foi abordado pela mesa “Ciência e sociedade pelo olhar da reportagem: experiências e desafios do jornalismo feito nas universidades”, realizada no dia 14/7, ainda durante o Festival do Conhecimento. Participaram dela os jornalistas da Universidade Federal do Pará (UFPA), Rosyane Rodrigues; da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Everton Cardoso; e da UFRJ, Ana Carolina Correia e Pedro Barreto. Eles explicaram como é feita a divulgação de pesquisas e de outras produções universitárias no caso específico de cada instituição, apresentando alguns de seus veículos: Jornal Beira do Rio, da UFPA; Jornal Universitário, da UFRGS; e Conexão UFRJ e Jornal da UFRJ.

Participantes da mesa “Ciência e sociedade pelo olhar da reportagem. | Reprodução: YouTube

Cada universidade tem seus processos e desafios na hora de colocar o jornalismo científico em prática. Rosyane explicou, por exemplo, que em Belém não é usual que os jornais tenham a editoria de Ciência, o que faz com que pautar a imprensa com as produções da Universidade exija buscar assuntos que sejam de interesse do público e dos jornalistas de forma geral. Já Everton falou sobre como a falta de estrutura e de pessoal faz com que manter um jornal de qualidade, com conteúdo relevante e com sua periodicidade preservada, seja uma tarefa árdua para uma equipe enxuta.

Na UFRJ, tanto Pedro quanto Ana Carolina reforçaram que um dos principais desafios se reflete no tamanho e no tempo de vida da Universidade. Por ser uma instituição centenária e muito diversa, é muito difícil que os jornalistas estajam a par de todas as pesquisas, produções e novidades realizadas por docentes, discentes e técnicos-administrativos. Segundo os profissionais, são questões que poderiam ser resolvidas com a criação de uma Política de Comunicação institucional, que vem sendo proposta pelos comunicadores da instituição há alguns anos.

“É muito ingênuo a gente pensar que a comunicação na UFRJ é feita apenas por comunicadores. Estamos participando de um curso de divulgação científica, em que a gente conheceu muitas pessoas que exercem esse papel – professores, estudantes e técnicos-administrativos que não são formados na área, mas realizam as atividades. Uma Política de Comunicação nos ajudaria até mesmo a embasar esse trabalho e aproximar as pessoas”, explicou Ana Carolina.

O evento foi produzido e moderado pela jornalista Patrícia da Veiga, da Coordcom, que hoje também atua na produção do programa Conexão na Rádio UFRJ. Ela ressaltou a necessidade de expandir uma visão de Brasil e das universidades federais. “Nosso primeiro critério para selecionar os jornais que convidaríamos foi a relevância; o segundo, a região. A gente queria pegar essas experiências que não estão no Sudeste, e sim na região Norte e Sul”, explicou.

As mesas e painéis do Festival do Conhecimento foram transmitidas de forma virtual no YouTube. Para quem não pôde acompanhar ao vivo, as duas mesas estão disponíveis nos canais do Fórum de Ciência e Cultura e da WebTV, respectivamente.