Na contramão da maioria dos países e da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde brasileiro publicou portaria regulamentando o uso da cloroquina e hidroxicloroquina para pacientes em qualquer fase da infecção pela COVID-19. Estudos científicos, no entanto, apontam não só para a incapacidade da substância de combater a doença mas também para o aumento da mortalidade entre usuários.
Celso Ramos, professor da Faculdade de Medicina e membro titular da Academia Brasileira de Medicina, afirma que todo o espaço que essa questão tomou é exagerado, já que o remédio não será a resposta para o controle da pandemia. “A ideia de que a cloroquina possa funcionar leva a uma falsa sensação de segurança. Em vez de tomar as medidas corretas de prevenção, as pessoas consideram que podem tomar um remédio para se proteger da infecção. Isso não acontece”, declara o pesquisador, que também faz parte do Grupo de Trabalho Multidisciplinar para Enfrentamento da COVID-19, da UFRJ.
A UFRJ também se envolveu em estudos sobre as substâncias analisando a literatura sobre o assunto e não encontrou nenhum benefício palpável. O professor conta, ainda, que o protocolo elaborado pelo Ministério da Saúde obriga os pacientes a assinarem um termo de compromisso, de maneira livre e bem informada, mas que nem sempre isso será possível. “Primeiro que, em alguns casos, os pacientes não terão condição de dar esse consentimento de maneira adequada; segundo, que vamos ter situações de conflito quando médicos com convicção ética e científica da ineficácia e do potencial danoso da substância decidirem não utilizá-la”, explica.
Segundo Ramos, a UFRJ, o Grupo de Trabalho e seus pesquisadores lamentam a radicalização e politização do tema – que deveria se pautar em um discurso científico, construído em universidades, laboratórios e hospitais. “Temos o dever e a prerrogativa de julgar e avaliar as políticas de saúde que são implementadas no país. E o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina não é uma política que possa ser técnica e eticamente defendida”, conclui.
Veja o vídeo produzido pela Coordenadoria de Comunicação (Coordcom/UFRJ) com o professor Celso Ramos, no Facebook da UFRJ.