Novas instalações e equipamentos do Lagoa permitirão avanço no desenvolvimento de pesquisas voltadas para análise de petróleo e biocombustíveis. Laboratório criado há 30 anos celebra legado acadêmico-científico dos Jogos de 2016 e anuncia dois acordos de cooperação com a Petrobras
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) reinaugurou, nesta quinta-feira (28/6), o Laboratório de Geoquímica Orgânica Molecular e Ambiental (Lagoa). A nova fase do laboratório celebra o legado acadêmico-científico após a participação da Universidade nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, que permitiu a aquisição de tecnologias de ponta, desenvolvimento de novas modalidades de pesquisa e ampliação das instalações, que passaram de 75 metros quadrados para 500 metros quadrados.
O Lagoa é um dos laboratórios associados ao Laboratório de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (Ladetec), que agrega outros seis no Instituto de Química da Universidade. A cerimônia para anúncio das novas instalações aconteceu durante a tarde, com a presença do reitor da UFRJ, Roberto Leher, e da vice-reitora, Denise Nascimento.
De acordo com Leher, a consolidação de mais um laboratório reforça o plano da Universidade de criar um polo de química no local. O Ladetec foi o primeiro do futuro complexo a ficar pronto. “A organização do Polo de Química na UFRJ tem uma dimensão visionária, estratégica”, defendeu. O reitor destacou a importância da química para o desenvolvimento econômico no Brasil. “São laboratórios que serão muito estratégicos para pensar setores produtivos e, sobretudo, nossa relação com sociedade e natureza”, disse.
Denise Nascimento elogiou o “esforço conjunto” dos profissionais envolvidos no projeto e pediu que a área de Geoquímica da Petrobras “continue confiando” na UFRJ. Débora de Almeida Azevedo, coordenadora do Lagoa, apresentou um histórico das ações desenvovidas pelo laboratório nos últimos anos e afirmou que “é uma honra mostrar à sociedade a contribuição que vimos fazendo durante esse tempo”.
O professor emérito Francisco Radler, coordenador do Ladetec, também destacou a importância da criação do Polo de Química para a Universidade e para o desenvolvimento da indústria brasileira. Ele mencionou o esforço feito por Leher e também pelos ex-reitores Carlos Levi e Aloisio Teixeira para o projeto.
Mário Duncan Rangel, gerente de Geoquímica da Petrobras, ressaltou que já duram 35 anos as parcerias feitas entre o Ladetec e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), da Petrobras. O trabalho duradouro também foi destacado por Cássia Turci, vice-decana do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), e Claudio José de Araujo Mota, diretor do Instituto de Química (IQ).
Pesquisas
“Os dados obtidos com a geoquímica orgânica molecular de amostras de petróleo orientam os profissionais de Geologia sobre onde perfurar poços. O índice de custo para a perfuração está ligado à geoquímica”, explica Radler.
Débora de Almeida Azevedo afirma que “o laboratório investiga a especiação química molecular de petróleo que auxilia na avaliação da exploração, produção, refino deste e atualmente biocombustíveis na área de energia renovável”, mas também avalia os efeitos da emissão de gases poluentes na atmosfera, com pesquisas sobre qualidade do ar, entre outras. “Contribuímos para mitigar o efeito estufa, com o reaproveitamento de CO2”, disse Radler.
Acordos com o Centro de Pesquisas da Petrobras
Nos últimos doze anos, o Lagoa estabeleceu sete acordos de cooperação com o Cenpes, vizinho do laboratório, na Cidade Universitária da UFRJ. Nesta quinta-feira, a Universidade anuncia a criação de dois novos projetos com o Cenpes, com investimentos de R$ 5 milhões para pesquisas.
O primeiro acordo é voltado para a caracterização molecular de petróleos. A pesquisa ajudará na identificação e quantificação dos diferentes compostos presentes nos óleos brutos, que podem acarretar prejuízos ao transporte em dutos ou armazenamento, por serem muito pesados. O segundo tem como objetivo desenvolver técnicas analíticas para a caracterização de bio-óleos e produtos de coprocessamento.
No Lagoa, resíduos de biomassas, como cana-de-açúcar, palma, bocaiuva, serragem e até café, são usados em experimentos para geração de bio-óleos.
Novos equipamentos permitiram maior qualidade nas pesquisas
O legado com os Jogos de 2016 deixou nas instalações do Ladetec e seus laboratórios associados uma infraestrutura única na América Latina. O Lagoa foi modernizado e um espectrômetro de massas de ultra-alta resolução passou a compor a infraestrutura do laboratório. O equipamento permite que os estudiosos analisem compostos polares do petróleo usando menor quantidade de amostra do que a usada antes da aquisição do equipamento, além de produzir resultados mais rápidos.
Se antes era necessário um volume considerável para investigar a composição de petróleo e biocombustível, agora os pesquisadores só precisam de uma única gota para realizar o trabalho em amostras que contêm até 30 mil substâncias diferentes. Débora explica que, entretanto, atualmente são necessárias 700 análises químicas diferentes para chegar à conclusão sobre a qualidade do petróleo.
Entre outros equipamentos modernos e adquiridos pelos termos de cooperação Petrobras/UFRJ está o sistema de cromatografia gasosa bidimensional abrangente com espectrometria de massas com tempo de voo, que analisa a especiação química molecular e, consequentemente, a qualidade de petróleo e bio-óleos.
O maior legado dos últimos anos, porém, segundo os coordenadores do Ladetec e do Lagoa, é a formação de recursos humanos na área de geoquímica, petroleômica e energia renovável. Formando mestres e doutores e capacitando alunos de graduação e técnicos, o Lagoa tem qualificado docentes e pesquisadores que atuam no Brasil e no exterior. No início deste ano, o laboratório ultrapassou a marca de 100 artigos científicos publicados.
Foto 1: Jean Souza – CoordCOM/UFRJ
Fotos 2 e 3: Raphael Pizzino – CoordCOM/UFRJ