O professor Alberto Luiz Galvão Coimbra, 94 anos, faleceu na manhã desta quarta-feira, 16/5. Nascido em 1923, no Rio de Janeiro, Coimbra fundou a Coppe, em 1963, a primeira pós-graduação em Engenharia do Brasil, hoje o maior centro de ensino e pesquisa da América Latina na área.
Em nota oficial, o reitor da UFRJ, Roberto Leher, pronunciou-se a respeito de seu legado:
Nota
Lamentamos com profundo pesar a morte do professor Alberto Luiz Galvão Coimbra, um dos intelectuais formadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua visão ampla e estratégica sobre a sociedade e a universidade construiu alicerces importantíssimos para a trajetória de milhares de profissionais. Em quase seis décadas atuando de forma dedicada na Coppe e na UFRJ, Coimbra contribuiu para o desenvolvimento econômico e social do país e iluminou o caminho não apenas de engenheiros, mas também da instituição universitária brasileira.
Roberto Leher
Biografia
Mestre em Engenharia Química pela Universidade de Vanderbilt (1949), nos Estados Unidos, Coimbra defendeu energicamente um modelo de ensino baseado em horário integral, com dedicação exclusiva. Em uma época em que ser professor universitário no Brasil era só uma atividade extra e, quando as escolas de Engenharia então existentes se preocupavam, basicamente, em formar profissionais para o mercado, ele queria investir em pesquisa.
Baseada em três pilares – excelência acadêmica, dedicação exclusiva de professores e alunos e aproximação com a sociedade –, a pós-graduação criada por Coimbra inspirou e serviu de modelo para outros cursos de pós-graduação criados posteriormente no Brasil, mudando os rumos do sistema universitário no país.
Coimbra fez uma viagem aos Estados Unidos em 1960, a convite de seu orientador, professor Frank Tiller, para conhecer diversas universidades do país. A disputa entre os Estados Unidos e a União Soviética pela primazia nos avanços tecnológicos provocara uma reformulação nos cursos de Engenharia estadunidenses. Havia uma nova ênfase na pesquisa científica, uma valorização dos fundamentos da Física e da Matemática. O entendimento influenciou a ideia visionária de Coimbra de estabelecer um curso de pós-graduação no Brasil, em uma época em que era rara tal continuidade nos estudos.
Com poucos recursos, buscava convênios para trazer professores estrangeiros, fossem americanos ou russos, em pleno regime militar. Por conta dessa atuação em prol de uma ciência independente, foi convocado para depor na Polícia Federal e fichado, com direito a humilhação. Teve seu rosto coberto por capuz e conduzido, coercitivamente, ao Quartel do 1º Batalhão da Polícia do Exército, na Tijuca, onde funcionava o DOI-Codi.
Em 1973, o Conselho Universitário decidiu que Alberto Luiz Coimbra seria proibido de exercer postos de chefia. O fundador da Coppe deixou então a Universidade e foi acolhido pelo amigo José Pelúcio Ferreira, então na direção da Finep, empresa pública financiadora de ciência e tecnologia. Lá passou dez anos exilado da vida universitária, período que considerou “o pior de sua vida”.
A reabilitação veio em 1981, ainda durante o regime militar, quando recebeu o Prêmio Anísio Teixeira do Ministério da Educação. “Quando viram que o Ministério da Educação ia me dar o prêmio, tiveram de revogar a proibição de ocupar cargos de chefia na UFRJ”, contou o professor. De volta à Coppe em 1983, Coimbra assumiu a coordenação do Programa de Engenharia Química, o primeiro curso da Coppe, no qual permaneceu como pesquisador até se aposentar, em 1993, já com as merecidas honrarias, tornando-se Professor Emérito da UFRJ.
Em 1995, a instituição que Coimbra sonhou e construiu deu-lhe um dos maiores reconhecimentos que se pode receber em vida: passou a se chamar Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia. Manteve-se, porém, a sigla que ele escolhera 30 anos antes: Coppe.
Com informações da Assessoria de Comunicação da Coppe