O reitor da UFRJ, Roberto Leher, publicou artigo celebrando o Dia dos Professores, comemorado no domingo, 15/10. Ele comenta os atuais desafios para a prática docente e elogia o caráter altruísta da profissão. Leher também homenageia a professora Helley Abreu Batista, que morreu no início deste mês ao tentar salvar crianças de um incêndio criminoso na creche Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente, em Janaúba (MG). Leia abaixo:
15 de Outubro: Mais do que nunca, celebremos!
Em tempos de irracionalismo, as professoras e os professores têm mantido acesa a chama do conhecimento, em prol da liberdade e da emancipação humana. Nas escolas e universidades, têm demonstrado emocionante coerência, inteligência e vigor para impedir que a educação pública seja engolfada pelas manifestações da crise que transtorna o país – do desmonte do aparato de ciência e tecnologia ao estrangulamento financeiro das universidades federais, abrangendo, inevitavelmente, a esfera política.
A celebração da data comemorativa é uma manifestação sobre o futuro, antecipa desejos e expectativas sobre o fazer docente. E, por isso, não podemos deixar de pensar nos desafios imediatos. O trabalho docente está se intensificando de modo preocupante. Exigências diversas (avaliação dos programas de pós-graduação e da carreira, publicações, orientações, projetos, turmas com grande número de estudantes etc.) precisam ser reexaminadas, em nome da saúde física e mental e da capacidade criadora.
A intensificação do trabalho é potencializada pelas radicais transformações nos loci de produção do conhecimento e impulsionada por novas tecnologias de informação. A divulgação meteórica de novas publicações, a influência direta do poder econômico na pesquisa e na divulgação científica exigem, cada vez mais, exaustivo esforço de síntese, objetivando apreender as principais problemáticas científicas e colocar em relevo a ética no fazer científico. Tudo isso está ocorrendo em um contexto de queda abrupta das condições materiais para o desenvolvimento acadêmico e institucional.
A pós-verdade, neologismo que foi dicionarizado, tal a sua amplitude, o recrudescimento do fundamentalismo religioso, a censura sem constrangimentos à arte “degenerada”, a hostilidade diante das concepções secular e laica da vida, como se depreende de investidas de movimentos irracionalistas e de setores do judiciário contra a liberdade de pensamento e os preceitos fundamentais do estado de direito, tudo isso torna a docência uma atividade que se encontra no olho do furacão dos conflitos provocados pelo giro conservador que se espalha em diversas partes do mundo e no Brasil em particular.
Mas, para desespero dos que querem silenciar as polissêmicas vozes dos(as) docentes, as universidades públicas estão vibrantes. Em diálogo com os (as) estudantes, atuam a favor da liberdade, da cultura e do esclarecimento crítico. Sabem que a prática da autonomia universitária é decisiva nos tempos atuais. E que urge enfrentar novos desafios, objetivando fortalecer o conceito de comunidade acadêmica. Novos desafios, emocionantes e inspiradores, interpelam a docência universitária, como a acelerada mudança no perfil socioeconômico dos estudantes das universidades públicas, fazendo-nos lembrar o quanto a educação é desigual em uma sociedade de classes.
Estudantes, docentes e técnicos-administrativos estão desafiados a constituir espaços dialógicos em proveito do livre desenvolvimento das culturas, das ciências, das artes e das tecnologias. Em todos os níveis, em todas as esferas, a docência realimenta o altruísmo, a ideia de que compartilhar é melhor do que guardar para si. Seguimos criando, forjando sociabilidades democráticas, lutando pela formação integral de todos os estudantes. Em reconhecimento ao gesto altruísta e corajoso de Helley Abreu Batista em prol da vida de seus estudantes, afirmamos: estamos juntos na defesa de ideias, de perspectivas de igualdade, da convivência democrática e da busca do bem viver de todos(as)!
Roberto Leher
Rio de Janeiro, 15 de outubro de 2017