Por Adânia Souza (bolsista)
Duas produções da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ) foram selecionadas para a 20ª edição da Short Film Corner, a mostra não competitiva do Festival de Cannes. Os curtas Mercadoria e O poste foram idealizados por alunos do curso de Rádio e TV e desenvolvidos na parceria entre as disciplinas de Direção em Audiovisual e Produção em Audiovisual.
Mercadoria, dirigido por Carla Villa-Lobos, mostra as experiências, medos e desejos de seis prostitutas a partir da visão de uma recém-chegada, passeando entre a fronteira da ficção e do documentário. O Poste, dirigido por Lucas Abreu e codirigido por Gabriela Giffoni, aborda como a carência das relações humanas na modernidade leva os personagens a desabafarem com um poste. Essa será a segunda participação da Escola no Festival. O curta Sublime Cor do Teu Silêncio, dirigido por Fernando Fernandes, participou da edição de 2015.
Julia Araujo, produtora do Mercadoria, lembra que a conquista pioneira dos amigos lhe deu esperança de alçar voos mais altos no mercado audiovisual durante a faculdade e vê a mostra francesa como uma rodada de negócios. Lucas Abreu destaca que concluir a produção de um filme já é uma grande vitória e entende a participação no evento como o degrau de uma escalada.
Para Kátia Maciel, professora de Direção, a Short Film Corner é uma grande vitrine, e a participação no festival de Cannes é muito importante para fortalecer o perfil e a identidade do curso de audiovisual e de todo o corpo docente e discente. “Ver um colega fazer incentiva e te faz pensar que é possível. Aos professores, é a certeza de que a gente pode acreditar, incentivar e dar uma chance para os meninos mostrarem o trabalho e que isso vai gerar um resultado positivo.”
A concepção do Mercadoria é a confirmação dessa rede entre os alunos. O conceito do curta partiu do roteirista de Sublime Cor do Teu Silêncio. Rubens passou a ideia para a Carla por acreditar que a prostituição é um tema que merece abordagem feminina. A equipe do Mercadoria integra o Coletivo Carne e Osso, cuja missão é fazer filmes por mulheres e para mulheres. As meninas visitaram a Vila Mimosa, área de prostituição localizada na zona norte do Rio de Janeiro, para conversar com as mulheres que trabalham lá.
“A ideia inicial era que algumas participassem, só que nenhuma topou, porque as famílias não sabem que elas trabalham com isso. Mas os diálogos do curta foram construídos com as atrizes baseados nas entrevistas.” Julia conta que o trabalho de ensaio foi muito grande para que as atrizes conseguissem solidificar o personagem, sem nada marcado e podendo improvisar.
Lucas Abreu acredita que as participações em mostras e festivais também contribuem para impulsionar a produção nacional, que depende bastante das leis de incentivo. “É muito interessante poder divulgar a marca da UFRJ como fomentadora do cinema brasileiro e mostrar que existe uma produção de qualidade dentro das universidades.”
Em 2016, O Poste foi selecionado no Elipse, programa estadual de fomento ao curta universitário, e ganhou R$12.500,00 para a realização do filme. O edital é da Fundação Cesgranrio, em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado do Rio e tem apoio do Canal Brasil. O curta também foi selecionado para o Festival Brasileiro de Cinema Universitário (FBCU). Dentre 310 inscritos, foram 26 selecionados. O projeto de Abreu e Giffoni é o representante da UFRJ na competição.
A professora Kátia Maciel acredita que a conquista do espaço no renomado festival de cinema mundial mostra a importância da produção universitária. “Conseguir isso também é um ato de resistência política, é mostrar que a universidade pública gratuita é viável e ainda é expoente.”
O 70º Festival de Cannes acontece de 17/5 a 28/5, quando a cidade, no sul da França, recebe os alunos da UFRJ.