Em meio às mudanças no cenário político e econômico do país, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais e Ensino Superior (Andifes) se reuniu no dia 20/2, na Casa da Ciência da UFRJ, no Rio de Janeiro, a fim de tratar de questões que envolvem a universidade pública e políticas do ensino superior e debater a questão econômica do país. A reunião também foi um ato de desagravo em relação à ação do MPF contra o reitor da UFRJ e a estudante Thais Zacharia, ex-presidente do Centro Acadêmico de Engenharia da Universidade.
Na segunda-feira, foi realizado um seminário com as mesas As Prerrogativas da Autonomia Universitária e Brasil, Conjuntura e Perspectivas. Na primeira, os participantes enfatizaram o papel da universidade na construção de uma sociedade mais pluralista e questionaram a perda da autonomia universitária, que se dá tanto pela criminalização da liberdade de pensamento e de expressão, quanto pelo corte de verbas previstas em lei. A questão econômica surgiu na segunda mesa, onde os destaques foram os altos juros do país e a questão do desenvolvimento econômico.
Com a moderação do reitor Orlando Amaral (UFG), expuseram suas opiniões o economista Éverton Gomes (Santander), o ex-reitor e professor Clélio Campolina (UFMG) e os professores Luciano Coutinho e Fernando Sarti (Unicamp). Tanto Coutinho quanto Sarti concordaram que a redução dos juros é um ponto que deve ser pensado e discutido a fim de evitar o aumento cada vez maior da dívida pública. Para Luciano Coutinho, a redução de juros abre caminho para acelerar o processo de digestão de dívidas, o que tem um efeito positivo sobre as finanças públicas. Já Fernando Sarti criticou o que ele chama de “rentismo” – taxas de juros elevadas para padrões internacionais –, afirmando que o gasto com juros em 2015 foi maior do que os gastos com assistência social, saúde, educação e cultura somados.
Já Clélio Campolina ressaltou a necessidade de focar na ciência e tecnologia para garantir o desenvolvimento do país, tendo em vista o fato de o Brasil ainda não ter evoluído em pontos como a educação básica e a produção industrial. “É preciso encontrar alguma forma de a ciência e tecnologia estarem a serviço da comunidade. A universidade precisa deixar de ser apenas local de produção de empresas e manter a sua autonomia”, defendeu.
Apoio à Uerj
Após a conclusão do seminário, ainda no dia 20/2, os reitores e diretores se encaminharam para a Uerj, onde promoveram um ato de apoio às universidades estaduais do Rio de Janeiro (Uerj, Uezo e Uenf), que têm sofrido com a crise financeira do estado. No ato, foi reiterado o cenário de desmonte que vem sendo promovido e como isso é negativo para estudantes, servidores e docentes.
Para o reitor da UFRJ, Roberto Leher, o ato unificando universidades federais e as estaduais do Rio tem um peso político e acadêmico enorme porque demonstra a necessidade de assegurar a autonomia universitária. Segundo ele, a universidade precisa poder planejar o futuro. “Ela não pode estar atrelada a humores de governos porque é um projeto de longo prazo. A universidade é formadora e produtora de conhecimento e precisa de tempo para amadurecer”, assegura ele.