Não desperdice água. Recicle seu lixo. Consuma menos. Plante sua própria horta. A sustentabilidade está além desses e outros conselhos que preenchem as cartilhas de ecologia, apesar de grande parte das discussões atuais sobre as mudanças climáticas estar fundamentada nesses ideais. “Cabe à educação desnaturalizar esse discurso para compreender o verdadeiro debate sobre o desenvolvimento sustentável”, analisou o professor Frederico Loureiro na mesa que abriu a segunda edição do evento Rizoma Verde, no dia 11 de novembro, na Escola de Comunicação da UFRJ.
Com o objetivo de discutir a relação entre consumo, responsabilidade ambiental e os novos papéis sociais atribuídos ao consumidor, o evento reuniu professores, pesquisadores, líderes de movimentos em defesa do meio ambiente e representantes de empresas.
Na abertura, o tema em debate foi “A sociedade de consumo e temática ambiental: relações e desafios”. Além do professor Loureiro, do programa Eicos de pós-graduação da UFRJ, compuseram a mesa as professoras e pesquisadoras Marta Pinheiro (ECO−UFRJ) e Bernadete Angelo de Almeida (ESPM). A mediação foi feita por Marie Louise, também integrante do programa Eicos.
“Há uma falácia em torno do consumo consciente. Muitas vezes o consumidor escolhe empresas que vendem o ideário verde, mas não consegue compreender o real impacto dos seus hábitos de vida”, disse a professora Bernadete.
Foto: Júlia Maximo |
Da esquerda para a direita: Bernadete Angelo, Marta Pinheiro, Marie Louise e Frederico Loureiro |
Numerosas contradições permeiam e impulsionam a questão ambiental, segundo a professora Marta Pinheiro. Sua origem, por exemplo, está no impasse gerado pelo modelo de exploração baseado no consumo excessivo e recursos finitos do planeta. “Hoje também enfrentamos o paradoxo entre a diminuição do consumo, como forma de reduzir os impactos ambientais, e o medo da estagnação econômica”, ressaltou.
Diante dessa realidade o consumidor é responsabilizado pelos danos causados ao meio ambiente. “O que leva a pensar que essa conscientização mais desempodera do que empodera a sociedade”, refletiu Marta Pinheiro.
“Constatar apenas a culpa transferida ao consumidor individual deixa de lado a importância coletiva e da organização da sociedade”, acrescentou Loureiro. Ainda em sua fala, o pesquisador tratou da precarização dos agricultores que produzem orgânicos, devido à falta de estruturação do mercado. Revelou também que, segundo pesquisas, as mesmas escolas que seguem as orientações do MEC de boas práticas ambientais estão localizadas em áreas com os maiores problemas ambientais. Para ele, isso evidencia o caráter pontual do tratamento dado à sustentabilidade.
De acordo com Loureiro, é pequeno ainda o espaço para trazer grupos que propõem novos modos de organização social para dialogar com a universidade. Já Bernadete diz que a academia tem o papel fundamental de criar e incentivar o olhar crítico sobre essas contradições. Ela concluiu com uma provocação: “Será que vamos continuar falando nas universidades e nas escolas que as questões ambientais estão resumidas a hortas e consumo de água?”