A primeira mesa do seminário que celebra os “140 anos da Comuna de Paris” reuniu os professores José Paulo Neto e Carlos Nelson Coutinho, ambos da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, e Ronaldo Coutinho, da UFF. O evento lotou o Salão Pedro Calmon, no Palácio Universitário da Praia Vermelha, no campus da UFRJ, na tarde da última quarta (14 de setembro).

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Memória

Marx, Lênin, Gramsci e a Comuna de Paris

A primeira mesa do seminário que celebra os “140 anos da Comuna de Paris” reuniu os professores José Paulo Neto e Carlos Nelson Coutinho, ambos da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, e Ronaldo Coutinho, da UFF. O evento lotou o Salão Pedro Calmon, no Palácio Universitário da Praia Vermelha, no campus da UFRJ, na tarde da última quarta (14 de setembro).

A primeira mesa do seminário que celebra os “140 anos da Comuna de Paris” reuniu os professores José Paulo Neto e Carlos Nelson Coutinho, ambos da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, e Ronaldo Coutinho, da Universidade Federal Fluminense (UFF). O evento, promovido em parceria por entidades como a Associação dos Docentes da UFRJ (Adufrj), Fórum de Ciência e Cultura (FCC), Laboratório de Estudos Marxistas (Lema), entre outras, lotou o Salão Pedro Calmão, localizado no segundo andar do Palácio Universitário da Praia Vermelha, no campus da UFRJ, na tarde da última quarta (14 de setembro).

A mesa “A Comuna nas obras de Marx, Lênin e Gramsci” debateu a influência do evento, ocorrido na Paris do século XIX, nas obras dos pensadores em questão e suas consequências para os acontecimentos políticos posteriores, como a Revolução Russa, em 1917. De acordo com José Paulo Neto, a Comuna de Paris exerceu grande influência na obra de Karl Marx na década de 1870, quando o intelectual alemão ainda gozava de plena capacidade criativa. “Em 1864, Marx participa da criação da Associação Internacional dos Trabalhadores, movimento que seria conhecido posteriormente como a I Internacional Comunista. Na época, Marx já apostava na recuperação do operariado europeu”, explica o professor da ESS-UFRJ.

No entanto, o docente revela que, seis meses antes da formação da Comuna, o pensador alemão preveniu contra a constituição de um governo proletário em Paris, quando o movimento já se anunciava, por considerar prematura sua realização. “Mas, quando a Comuna, enfim, se realizou, Marx prontamente parte em defesa desta, tendo redigido, inclusive, as moções de solidariedade quando dos ataques sofridos por ela”, esclarece José Paulo Neto.

Numa reflexão posterior acerca do que teria sido a Comuna de Paris, Marx teria dito: “Senhores, isto é a ditadura do proletariado”. José Paulo Neto ressalta que Marx reconhecia os elementos coercitivos presentes no movimento, num contexto revolucionário, sem, no entanto, deixar de exaltá-lo. “Marx se dizia solidário à Comuna, mas não com seus erros. Em vez de julgá-la, (o pensador) estava mais preocupado em extrair lições a partir daquela experiência”, concluiu o professor da ESS-UFRJ.

Lênin

Ronaldo Coutinho analisou a influência do movimento na obra de Vladimir Lênin. Segundo o professor da UFF, o revolucionário russo foi injustamente desqualificado enquanto intelectual e raras vezes é lembrado enquanto um pensador de relevância, mesmo em debates acadêmicos. “Em meus 73 anos de idade, acho que esta é a primeira vez que sou convidado a falar sobre Lênin como pensador em um evento acadêmico. Este esquecimento não é por acaso. Lênin foi um intelectual sofisticado que renovou a importância política da Revolução e do proletariado”, analisou o docente.

De acordo com o professor da UFF, o líder da Revolução de 1917 percebia a ditadura do proletariado como a condição sine qua non para o Socialismo. “Para Lênin, não pode haver ‘democracia pura’. Esta expressão, para ele, significa zombar dos trabalhadores”, explica. Para Ronaldo Coutinho, a “ditadura do proletariado”, ao longo do tempo, foi propositalmente simplificada e reduzida em seu real sentido, de forma a “desqualificar o pensamento de Lênin”.

Gramsci

Carlos Nelson Coutinho encerrou os trabalhos da mesa ao analisar a influência da Comuna de Paris na obra de Antonio Gramsci. De acordo com o professor da ESS-UFRJ e diretor da Editora UFRJ, a presença do evento é muito reduzida nos escritos do pensador italiano. A maior parte de seus escritos foi feita no cárcere, onde passaria oito anos de sua vida, vítima de perseguições do governo fascista, entre 1926 e 1934. Apesar de poucas vezes citar a Comuna de Paris em seus “Cadernos do Cárcere”, Gramsci acreditava que a reflexão acerca da experiência francesa “representa um elemento fundamental para a realização de um governo operário”, segundo Carlos Nelson.

Gramsci também escreveu sobre a dura repressão sofrida pelo movimento, mas, a exemplo de Marx, também considerava prematura a constituição de uma “ditadura do proletariado”, como nos moldes da Comuna. No entanto, Carlos Nelson Coutinho questiona a abordagem de José Paulo Neto a respeito da análise de Marx sobre o caráter coercitivo da Comuna de Paris. De acordo com Coutinho, o pensador alemão acreditava que “a ditadura do proletariado representava, naquele contexto, a solução para a superação da condição de dominação da classe trabalhadora”.

Segundo o diretor da Editora UFRJ, a experiência da Comuna de Paris levou Gramsci a refletir, em seus últimos anos de vida, “por que a guerra de movimento, que triunfou na Rússia, não funcionou no ocidente”. A resposta está nas quase três mil páginas reunidas nos 32 cadernos escritos por Antonio Gramsci, de fevereiro de 1929 até agosto de 1935, dois anos antes de sua morte, em decorrência de maus tratos sofridos na prisão.