A partir dos anos 1970, em pleno milagre econômico da Ditadura Militar, consolidou-se no Brasil a ideia de que a má distribuição de renda no país seria solucionada por um maior nível de especialização e escolarização da população. É essa concepção que a professora Maria Malta, do Laboratório de Estudos Marxistas Ricardo Tauile (Lema) da UFRJ, pretendeu refutar, em palestra na Casa de Ciência da UFRJ, na última terça-feira (24/05) às 15h, no encerramento do II Workshop de História do Pensamento Econômico Brasileiro. Juntamente com os professores Carlos Medeiros e Cláudio Salm, a docente pôs em debate a questão da distribuição de renda e do desenvolvimento, pautados principalmente pelos estudos do economista José Serra e da professora Maria da Conceição Tavares.
O censo de 1970 revelou que, em comparação às décadas anteriores, os 40% mais pobres ficavam com cerca de 10% do crescente PIB nacional, em contrapartida aos 40% mais ricos, que estavam com mais de 40%. Em contraste ao discurso oficial da época, de que a causa dessa desigualdade era a falta de especialização da mão-de-obra – pensamento decorrente da Teoria do Capital Humano, originária dos anos 1950 –, Maria afirma que, na verdade, a razão para esse resultado foram as escolhas políticas e estruturais da época. A professora afirma que o problema não é o acesso à educação, mas sim, a qualidade, oferta e possibilidade de crescimento dos empregos já existentes. “Pergunto aos meus alunos: no seu estágio, quanto mais você sobe de período, maior fica seu salário?”, pontuou.
Comprovando que a situação de 40 anos atrás não é diferente da que é hoje, o professor Carlos Medeiros ressaltou que, segundo o Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), os 10% mais ricos se apropriam de 43% da renda nacional. Reafirmando o fato de que a causa da desigualdade é a qualidade dos empregos, Medeiros afirma que a educação só permite “ordenar melhor o indivíduo na fila das oportunidades”. No entanto, a questão da concentração fica na oferta dessas oportunidades. “A maioria dos empregos são exíguos e a maioria da população vegeta em empregos sem possibilidade de ascensão”, exemplificou.
De 2001 em diante, houve certa melhora no cenário do desenvolvimento porque, segundo Medeiros, investiu-se em políticas de transferência de renda, em queda dos juros por mais que ainda sejam os mais altos do mundo, e no aumento do salário mínimo. Então, para os professores, a solução para a desigualdade de renda está no emprego de base, pois não adianta educar mais se não se melhora a oferta de bons empregos.
Sendo assim, para concluir o workshop, o professor Cláudio Salm disse que o Brasil hoje deve ser visto como um país capitalista consolidado. “Nós, daqui em diante, somos uma economia capitalista normal, como qualquer outra”, argumentou. Para o docente, entretanto, “não somos mais uma economia com oferta ilimitada de mão-de-obra”. Com isso, Salm afirma que o “crescimento virá com o aumento do salário mínimo”, concordando que o aumento objetivo dos salários e assistência social são, a longo prazo, a solução para a desigualdade crônica do país.