Há duas semanas, o Rio de Janeiro sentiu como nunca a proximidade da violência, que ultrapassou a tela da televisão e invadiu as ruas da cidade, com inúmeros veículos queimados e arrastões. Em meio a todo o sentimento de medo e insegurança, os cariocas se viam divididos entre se manter informados sobre a situação da cidade e se proteger da enorme carga de notícias negativas.
De acordo com Maurício Tostes, psicólogo do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), a violência cresceu e cada vez mais passa a fazer parte do cotidiano, ocupando também um espaço maior na mídia. “O problema é que muitos meios de comunicação exploram a violência de forma sensacionalista, porque gera audiência. Tem demanda para isso”, afirma.
Apesar de o sensacionalismo agradar a um público grande, os meios de comunicação devem adotar algumas medidas éticas simples, como evitar cenas fortes de violência, por exemplo, durante horários em que o número de crianças assistindo é alto.
“É preciso ter preocupação com o público. Para muitas pessoas, a violência não gera grande impacto, mas há pessoas mais sensíveis e vulneráveis que têm dificuldade para lidar com essas questões. Ou, ainda, pessoas que passaram por algum tipo de trauma causado pela violência, como estupro, sequestro, morte na família. Essas pessoas precisam de um suporte especial”, explica Maurício.
O que tem havido, no entanto, que também é preocupante é a banalização da violência, devido à sua superexposição. “A banalização é um recurso que as pessoas têm para se proteger. Não podemos aceitar conviver com a violência. Nesse sentido, deve haver um esforço para resgatar a dimensão trágica dos acontecimentos”, alerta o psicólogo.
Deve-se preservar, portanto, o escândalo natural à violência, para que as pessoas não se tornem indiferentes e tentem, de alguma forma, melhorar a situação. “Estar bem informado é uma condição importante para que possamos agir coletivamente e cobrar das autoridades as medidas necessárias. A informação é indispensável, constrói cidadania”, afirma Maurício.
O ideal seria, talvez, dar o mesmo enfoque das notícias negativas às positivas, de modo a gerar um sentimento de esperança na população e, ao mesmo tempo, informar. “Os meios de comunicação poderiam olhar para o mundo de uma forma mais abrangente. Notícias boas precisam ser veiculadas, é preciso divulgar atitudes boas, positivas. É preciso dar destaque para as pessoas que estão fazendo a diferença, que estão trabalhando na humanização da sociedade”, aconselha o psicólogo.
Quanto às informações, cabe a cada pessoa dosar o quanto quer ver, suportar. “É preciso que cada um cuide de seus próprios limites, escolhendo entre os meios de comunicação que mais correspondem às suas necessidades. Há jornais, por exemplo, que informam de maneira mais equilibrada, enquanto há outros que você ‘espreme e sai sangue’. Cada pessoa tem o direito de escolher que tipo de informação prefere receber”, conclui Maurício Tostes.