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Especialistas debatem o filme “Hamaca Paraguaya”

Entre os dias 8 e 12 de novembro, aconteceu, no campus da UFRJ na Praia Vermelha, a Mostra Fronteiras do Cinema Latino-americano. Foram exibidos cinco longas-metragens de países como o México, Argentina e Paraguai, apresentando um cinema comprometido com questões sociais, sem, no entanto, a perda do lirismo e do uso das paisagens rurais.

Hamaca Paraguaya, de Paz Encina, exibido na última terça (9/11), é composto por poucos e longos planos-sequência, que leva ao máximo da experiência de suspensão da ação. A história do filme se passa em um tempo e local praticamente indefinidos – a não ser pela referência a guerra Del Chaco travada entre Bolívia e Paraguai, – e é construída  toda sobre a ideia da “espera”. Um lugar isolado onde pouco acontece e o que fazem os personagens é discutir entre si e reclamar – do calor e do cachorro, que ora está latindo, ora está calado. Eles esperam pela chuva, para nutrir o solo, e pelo filho, convocado à guerra. O filme, lançado em 2006, foi o primeiro longa-metragem finalizado no Paraguai desde 1978.

A película é falada no idioma guarani e os diálogos se apresentam deslocados de suas imagens, aumentando o estranhamento do espectador. Em debate após a exibição da obra, Adalberto Muller, professor de Literatura da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirmou que a obra opera dois resgates fundamentais. “O primeiro se refere ao resgate de se trabalhar elementos básicos do cinema: movimento, tempo, som, imagem, sem a espetacularização que acompanha a produção hegemônica. O segundo, ao resgate de questões históricas e culturais do povo paraguaio, um povo historicamente imposto a uma séria de dificuldades”, analisou.

Para Hernán Ulm, mestrando em Cinema pela UFF, a própria escolha da língua guarani é um forte indicador dessa busca pela tradição daquele povo. “A língua já foi a mais falada no continente e hoje está gravemente ameaçada de extinção”, relatou.

Apesar da aparente facilidade em se filmar uma obra de pouquíssimos planos e sem grandes e custosos cenários, o filme foi resultado de uma depuração técnica muito grande nos trabalhos de luz e som. “Foi necessário muito trabalho, grande equipe e grandes investimentos para filtrar os sons da natureza de acordo com as intenções da obra e manter a luz uniforme em planos únicos e tão extensos”, explicou.