Na tarde da última sexta-feira (29/10), aconteceram as palestras e debate previstos na última mesa-redonda da III Jornada sobre Violência Familiar contra Crianças e Adolescentes, com o tema “Possibilidades de intervenção da Estratégia da Saúde da Família (ESF) frente a situações de violência familiar contra a criança”. O evento teve como objeto de discussão a abordagem no âmbito da ESF, ressaltando o importante papel dos profissionais na prevenção, detecção e acompanhamento das vítimas de violência nesse frágil e vulnerável grupo etário.
Pedro Rocha, do medico do Programa de Saúde da Família (PSF) de Niterói, falou sobre as dificuldades presentes no dia-a-dia das equipes na abordagem da violência familiar. Segundo ele, o profissional encontra dificuldade em questionar uma situação que acontece na esfera privada da família, e, muitas vezes, o diagnóstico do abuso não é evidente, como acontece com o abuso sexual. Por sua vez, “o abuso psicológico, além de não trazer consigo marcas físicas da agressão, tornou-se banalizado na sociedade e não encontra a devida atenção”, diz ele.
Outra questão destacada por Rocha foi a diferenciação entre negligência e pobreza extrema. Segundo ele, “em uma sociedade marcada por grandes desigualdades sociais e econômicas como a nossa, encontramos a desinformação como fator determinante na ausência ou deficiência de cuidados com a alimentação, higiene, sexualidade e à valorização da vida como um todo”. Portanto, ainda segundo o medico, tal quadro é característico de uma situação de pobreza e tem como conseqüência os maus-tratos às crianças. “O conceito de negligência, por sua vez, se refere ao ato de omissão do responsável em prover as necessidades básicas para o seu desenvolvimento, e a negligência se configura quando tal falha não é determinada pelas condições de vida além do controle do indivíduo”, disse.
Outro tema muito abordado na mesa foi o da notificação de casos de violência contra a criança. De acordo com a palestra da medica Maria Angélica Nogueira, entendemos que embora a notificação seja necessária para o bom funcionamento da rede de proteção contra a violência, ela ainda ocorre de maneira pontual e assistemática, pois muitos profissionais da saúde ainda têm dificuldade de notificar, seja por medo ou falta de informação, e ela acredita que deveria ser feita uma capacitação nesse sentido. “O ato de notificar não implica em denúncia, pois não visa julgar o caso em si, mas proteger a criança. Notificar significa dar ciência ou noticiar para, assim, intervir e facilitar o instrumento de cuidado e proteção”, concluiu.