O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e o Instituto de Economia (IE) da UFRJ promoveram, na última terça (26/10), o Seminário Desenvolvimento e Meio Ambiente: Conciliáveis?, com a presença do teólogo e escritor Leonardo Boff e Cândido Grzybowski, diretor-geral do Ibase. A mesa foi mediada por Dulce Pandofilli, também diretora do Ibase, que ressaltou “a importância de um debate sério sobre temas centrais para o país como a sustentabilidade, no contexto de um debate eleitoral tão esvaziado de conteúdo, como o que vem acontecendo no Brasil”.
Leonardo Boff retomou o tema proposto por Dulce e acrescentou que “este é o eixo a ser discutido pelo Homem, pois dele depende o destino da civilização e talvez até de nossa própria espécie”. O teólogo afirmou que o primeiro passo para a discussão deve ser repensar o que se entende por desenvolvimento. “Precisamos nos encaminhar para um desenvolvimento alternativo ao proposto e perseguido pelo modelo capitalista”. O professor reconheceu o mérito de alguns avanços alcançados por nosso modo de produção, mas afirma que “a partir do momento que se mantém uma sociedade essencialmente desigual e se põe sob ameaça todo o curso de vida saudável do planeta é preciso rever drasticamente certas posturas”.
Para Boff, não há possibilidade de conciliar sustentabilidade e sociedade do consumo. “Nossos recursos não são ilimitados, como pensávamos antes, e estamos abusando deles. Segundo dados, consumimos 130% do que nosso planeta pode nos oferecer e, se quiséssemos estender o alto padrão de consumo a todos, precisaríamos de, no mínimo, dois planetas Terra”, afirmou.
O pensador lembrou de uma reunião com líderes mundiais, nos anos 1980, em que esteve presente o então presidente da União Soviética, Mikhail Gorbatchev. Na ocasião, Boff perguntou se era verdade que o mandatário soviético poderia explodir o Ocidente apenas apertando um botão. “Eu tenho dois generais malucos me pedindo sem parar para ir ao confronto direto. É verdade, eu posso explodir tudo sem sair de casa”, respondeu Gorbatchev.
Candido Grzybowski complementou o pensamento de Boff, argumentando que o “mesmo processo que gera injustiça social, gera crise ambiental”. O diretor da Ibase afirmou que é preciso superar o imperialismo da Ciência Econômica e traçar objetivos para além da produtividade e respectivo lucro.
Para Grzybowski, o Brasil tem papel fundamental nesse contexto em que se vislumbram alternativas de desenvolvimento. “Nós, brasileiros, somos vistos como um dos possíveis responsáveis pela salvação para o planeta. Temos grande parte do que ainda há de reserva de recursos naturais e estamos começando a emergir como potência mundial. Cabe a nós decidir se vamos nos tornar imperialistas ou se vamos seguir por outro caminho”, concluiu.