Pesquisadores revelam 819 novos peixes raros, que podem estar ameaçados de extinção
A fauna marinha brasileira possui grande diversidade e beleza, que a tornam reconhecida em todo o mundo. Um estudo divulgado recentemente, porém, aumenta ainda mais a gama de espécies de peixes das baías brasileiras. O trabalho, realizado por pesquisadores do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, em parceria com a ONG Conservação Internacional do Brasil, identificou 819 espécies de peixes raros de água doce nas águas brasileiras.
“A pesquisa iniciou-se a partir de 2007, quando publicamos o Catálogo das Espécies de Peixes de Água Doce do Brasil. A partir desse inventário inicial, que contou a participação de 39 especialistas, os pesquisadores realizaram um cuidadoso estudo para identificar as espécies de peixes cuja área de distribuição é inferior a 10.000 km2 . O detalhamento durou três anos e resultou no artigo recentemente publicado”, explica Paulo Buckup, ictiólogo do Museu Nacional da UFRJ e um dos responsáveis pela pesquisa.
“A distribuição geográfica das espécies inicialmente identificadas como possuindo distribuição potencialmente restrita foram verificadas com base em registros documentados em coleções científicas. Em seguida, utilizando técnicas de mapeamento por computador, estimamos as coordenadas geográficas dos locais de ocorrência de cada espécie. Na etapa seguinte, os pontos de ocorrência das espécies foram associados a micro-bacias pré-definidas pela Agência Nacional de Águas. Por fim, utilizando sistemas de informação geográfica, avaliamos o grau de proteção e de ameaças associados as micro-bacias que abrigam as espécies de distribuição restrita”, relata Paulo.
O estudo, segundo o pesquisador, permite identificar as micro-bacias que devem receber atenção especial, já que abrigam espécies raras de peixes, que ocorrem apenas nessas pequenas áreas. “O estudo foi realizado com peixes de água doce, mas, com seu caráter pioneiro, pode servir de modelo para estudos a serem realizados em outras partes do mundo e, com alguma adaptação da metodologia, é provável que também possa ser aplicado a ambientes marinhos.”
A pesquisa serviu não só para mapearem as novas espécies de peixes, mas também para perceberem os cuidados que devem ser tomados com as áreas onde eles se localizam. “Mais importante do que a identificação das espécies de peixes com distribuição restrita, é a identificação das áreas que abrigam as espécies e das ameaças a que essas áreas estão sujeitas. Por exemplo, descobrimos que menos de 30% das áreas estão formalmente protegidas e que 22% das áreas estão sujeitas ao impacto de represas hidroelétricas”, expõe o especialista.
Quando questionado a respeito da possibilidade de novas espécies serem descobertas, Paulo deixou claro que a pesquisa divulgada é somente o começo de um amplo processo, que já está em ação. “Sem dúvida existem muitas espécies de peixes ainda desconhecidas pela ciência. O acompanhamento da produção científica relacionada às espécies brasileiras mostra que atualmente publica-se pelo menos uma nova descoberta a cada semana. Se por um lado as estatísticas demonstram que a comunidade científica brasileira ocupa papel de destaque mundial na área de biodiversidade, por outro, tais descobertas sugerem a possibilidade de que algumas espécies de distribuição muito restrita possam ser extintas antes mesmo de serem formalmente descritas.”
Extinção das espécies
Se por um lado a pesquisa apresenta uma nova gama de espécies de peixes, ela também revela que tais espécies podem estar ameaçadas de extinção, se não forem tomadas providências imediatas.
“A principal implicação do estudo é a possibilidade de investir no estudo da distribuição das espécies e suas exigências ambientais para verificar, em detalhe, os riscos a que estão sujeitas. O estudo que realizamos permite racionalizar esse esforço, uma vez que dimensiona precisamente o tamanho da tarefa e identifica as espécies que necessitam de atenção. Com uma visão mais clara das espécies a serem preservadas, agora é possível focar as medidas conservacionistas com maior eficiência”, revela Paulo.
O ictiólogo explica ainda que a vulnerabilidade das espécies é uma das principais preocupações dos pesquisadores do Museu Nacional, cujas coleções científicas existem há mais de um século e que contém amostras de peixes que já não existem mais em seu ambiente natural, além de exemplares gigantescos que hoje não são mais encontrados na natureza.
“Os curadores do Museu pretendem mostrar esses animais ao público e buscam parceiros para a montagem e reabertura das exposições fechadas há vários anos, quando o Museu foi assolado por temporais que exigiram a interdição das exposições”, conclui.
O projeto
Para saber mais sobre o estudo e contribuir para o desenvolvimento do trabalho de mapeamento, basta visitar o site do projeto.