Quem esteve presente ao Auditório Professor Manoel Maurício de Albuquerque, na tarde desta quinta, acompanhou o debate sobre “Reforma, revolução e contrarrevolução na América Latina”, protagonizado pelos professores Alexis Saludjian, do Instituto de Economia (IE) da IFRJ, Cláudio Katz, da Universidade de Buenos Aires (UBA), e Plínio de Arruda Sampaio Jr, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O evento, que faz parte do seminário “Encruzilhadas da América Latina no Século XXI”, foi promovido pelo Laboratório de Estudos Marxistas Ricardo Tauile (Lema) e promoveu o lançamento do livro de mesmo nome, organizado pelo professor Rodrigo Castelo e publicado pela Editora Pão e Rosas.
Saludjian analisou o papel da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), órgão das Organizações das Nações Unidas (ONU), no sentido da manutenção do modelo capitalista no continente. De acordo com o docente, a visão keynesiana, empreendida no final do século passado, não está dando conta dos desafios a serem enfrentados no século XXI. “O neoliberalismo nunca vai se assumir como produtor de desigualdades, mas sim, favoráveis a uma tal ‘liberdade’. Este modelo está levando para o lado oposto”, analisou. “O papel da academia é desmascarar a ortodoxia maquiada de cultura. Não adianta ficarmos aqui neste agradável campus da Praia Vermelha, se não discutirmos uma mudança conjuntural mais profunda”, propôs.
Plínio de Arruda Sampaio Jr. criticou o papel da atual esquerda no debate sobre a Teoria da Revolução. O professor da Unicamp citou Lênin, segundo quem, “sem uma teoria, não há revolução”. De acordo com o docente, “nós estamos assistindo a uma debilidade teórica que esta esquerda fragmentada não está sendo capaz de solucionar. Para discutirmos a teoria, é preciso interpretar na História o devenir que se manifesta concretamente na luta de classes e quais são as reais possibilidades de mudanças”, apontou.
Barbárie a galope
Para Plínio, a história do Brasil e da América Latina nos últimos 50 anos, “foi a história da derrota do esforço de domar o capitalismo”. O docente cita o caso de Salvador Allende (1970-1973), assassinado por forças golpistas a serviço do general Augusto Pinochet, com apoio estadunidense. “Allende propunha uma reforma radical. Em dois anos de governo, a burguesia rasgou a Constituição do país e jogou a democracia o lixo”, afirmou o professor, ressaltando a necessidade de levar a revolução socialista para todo o continente. “Assim como não há capitalismo em um só país, não há socialismo em um só país. Para construir uma teoria da revolução, é preciso restaurar a ideia de uma revolução socialista como eixo”, disse.
O caminho para o fim das desigualdades sociais não pode ser outro, para professor da Unicamp, que não o socialismo. “O capitalismo é anti-social, anti-democrático. Inexistem condições de um capitalismo ‘mais bonitinho’ como querem fazer crer alguns pensadores”, opinou. Para Plínio de Arruda Sampaio Jr, o momento atual é do clímax do imperialismo. “Isto quer dizer a fusão do capital com o Estado. A crise só aumentou esta condição. Os grandes blocos econômicos se organizam e a periferia fica cada vez mais à margem. É a barbárie a galope”, sentencia. “Há uma necessidade de mudança urgente, pois este capitalismo é altamente destrutivo”, completou.
Modelo arcaico
Claudio Katz traçou um perfil dos governos latinoamericanos, definindo três grupos distintos: direitistas, que incluem os países que apóiam a política externa estadunidense; os de centro-esquerda, que mantém uma relação ambivalente em relação aos Estados Unidos, promovem políticas assistencialistas e de intervenção nos movimentos sociais, como Brasil e Argentina; e os reformistas, que promovem mudanças estruturais que vão de encontro aos interesses das elites dominantes, como os governos da Venezuela, Bolívia e Equador.
“Para começar a discutir revolução no continente nesses termos é preciso, antes de tudo, frear todo o avanço contra-revolucionário, conter os assassinatos de militantes e jornalistas, denunciar a militarização da fronteira entre México e Estados Unidos e impedir ações de intervenção como a que ocorreu no Haiti, que não teve um caráter humanitário, e sim, político”, analisou Katz, para quem, os organismos financeiros internacionais estimulam um modelo de produção que limita os países periféricos ao papel de exportador de matérias-primas. “É preciso desenvolver as estruturas industriais e romper com este modelo arcaico”, sugeriu.