Filme argentino foi alvo para debate na Escola de Educação Física e Desportos
Valentin (2004), filme do diretor argentino Alejandro Agresti, inaugurou o III Ciclo de Cinema e Infância, organizado pelo grupo de pesquisa “Esquina – cidade, Lazer e animação cultural” da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD/UFRJ). A história do cativante menino de 8 anos e o choque de suas fantasias com a realidade da Buenos Aires da década de 1960 pautou a discussão entorno da infância diante da nova configuração familiar e a mudança de costumes, debatida pela doutora em Educação e professora da Uff Tânia de Vasconcellos.
Valentin é uma criança que vive com a avó, já que seu pai está sempre ocupado trabalhando e a mãe desapareceu desde a separação do marido. Entre a escola e o lar, o menino passa o tempo ouvindo as histórias da sua avó e aprendendo a tocar piano com Rufo, vizinho entregue ao alcoolismo após desilusão amorosa. Apesar de sofrer com a ausência dos pais, Valentin não deixa de lado os seus sonhos, como o de se tornar astronauta.
“O indivíduo é construído a partir do seu meio espaço-temporal”, enuncia Tânia. E aos oito anos em 1968 – marco de ruptura com a organização social então vigente – o protagonista do filme se depara com uma nova configuração familiar que vem se tornando comum desde a década de 1960. “O mundo começava a ganhar a cara atual, uma nova estrutura da classe média, com o avanço da cultura digital, da velocidade das mídias e a disseminação de produtos como a televisão, a coca-cola e até a minissaia como símbolo da emancipação feminina. A figura do pai de Valentin, duro e inflexível, representa a organização antiga”, avalia.
A doutora em Educação avalia que a infância é uma condição de ser e estar no mundo, constituída pela fantasia e inocência. O que vai de encontro à teoria desenvolvimentista, que tal fase é apenas mais uma etapa da vida, que tem de ser superada, onde a criança é impotente. “A relação do mundo adulto com o infantil se assemelha a colonização. O mais forte se impõe e submete o mais fraco ou o folcloriza. A ordem que aprendemos talvez não sirva para ordenar o mundo que temos. Deixar de lado o absoluto, para uma reorientação dos valores sociais depende da imaginação”, analisa Tânia.
Para a pedagoga, o sentido de infância é uma construção social, passível de mudanças que já ocorrem desde a época em que se passa o filme. E quanto ao sentimento de nostalgia, que muitos têm em relação à organização familiar, comenta “a família não se desestruturou, e sim apresenta uma nova estrutura.”
Serviço
O III Ciclo Cinema na Infância, com o tema o lugar da infância nas novas configurações familiares, acontece durante todas as quintas-feiras de maio, sempre às 14h no auditório Matia Lenk, na EEFD, Cidade Universitária. A entrada é aberta ao público. Confira as próximas sessões:
13 de maio: Minha vida de cachorro (1985), dirigido por Lasse Hallström. Debatedora: Professora Dra. Numa Ciro (UFRJ)
20 de maio: A culpa é do Fidel (2006), dirigido por Julie Gavras. Debatedora: Professora Dra. Rosália Duarte (PUC-Rio)
27 de maio: Um herói do nosso tempo (2004), dirigido por Radu Mihaileanu. Debatedor: Professor Dr. Luiz Felipe Faria (IBMR)