O professor de literatura na Universidade de Paris-Sorbonne Leonardo Tonus participou da mesa de abertura da segunda edição do evento Conexões Itaú Cultural – Mapeamento Internacional da Literatura Brasileira, que questionava se pesquisar a literatura brasileira contemporânea era padecer no paraíso, propondo uma relativização do tema. Para ele, era preciso perguntar onde seria o paraíso. “Nós padecemos na Europa”, adiantou ele, que com a frase resumiu o tom do debate de segunda-feira (30/11), no evento que é uma parceria do Itaú Cultural com o Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
Composta por Horst Nitschack, professor na Universidade do Chile; Milton Hatoum, escritor; e Pedro Meira Monteiro, professor na Universidade de Princeton, a mesa discutiu a situação dos pesquisadores em literatura brasileira no exterior. Nitschack iniciou o debate destacando o ínfimo contato entre escritores de países da América Latina no século passado, o que não contribuiu para a abertura e integração das literaturas, e o que se configura em um desafio hoje para os escritores e acadêmicos.
Mas o cenário vem mudando, Nitschack, que é professor do Centro de Estudos Culturais Latino-Americanos, exemplificou o fato ao citar que, dentre os 40 doutorandos do centro, nove trabalham com temas brasileiros. Segundo ele, isso denota que “o Brasil tem um impacto”. O grande problema é a fixação pela identidade nacional. “Essa fixação é altamente problemática para uma formação cultural latino-americana. Um dos desafios do nosso centro é oferecer aos nossos doutorandos oportunidade de pensar a América Latina como uma comunidade em diálogo.” Na visão de Nitschack o Brasil tem um importante papel dentro desse sistema, apresentando-se como mais que uma potência econômica, podendo contribuir com questões culturais.
Integração com os vizinhos e política da língua
Leonardo Tonus destacou a falta de acesso à produção literária atual do Brasil, o que provoca o isolamento do estudioso. “Vemos uma ausência de política cultural inovadora que trabalhe na divulgação da nossa literatura no exterior.” Tonus destacou também a ausência de instituições próprias do português: “Frente a essa invisibilidade no exterior, o pesquisador brasileiro tem de se associar a grupos de pesquisas exógenas ou à academia brasileira”.
“Essa relação entre o Brasil e seus vizinhos é ainda muito frágil, muito tênue”, afirmou Milton Hatoum, dando segmento ao que Nitschack havia abordado. Hantoun citou para exemplificar a experiência própria de já ter tido livros publicados em grego, mas que não foram publicados em espanhol. “Deveríamos privilegiar relações mais intensas e profícuas com nossos vizinhos”, diz.
Ao falar da situação da literatura brasileira nos Estados Unidos, a mensagem dele não foi nada alentadora. Segundo ele, os Estados Unidos não têm interesse nenhum na literatura estrangeira. Dentro do mercado americano, apenas 5% correspondem à produção literária de outros países. “O Brasil vai ocupar cada vez um papel mais importante no cenário mundial, vai levar sua cultura, além do futebol, carnaval e samba, para outros países. Isso já é sentido nas relações com países da América Latina. O Brasil é um país que vem crescendo economicamente e vai crescer culturalmente para os Estados Unidos, Europa e Ásia”, advertiu.
Para concluir, Hatoum destacou mais um ponto em comum com os outros presentes na mesa: falta uma política da língua. Embora ele reconheça que há esforços do Itamaraty, ainda é preciso política mais efetiva, com criação de cursos de língua portuguesa e literatura brasileira. “É importante para marcar uma influência maior na literatura mundial.”