A Casa da Ciência foi palco, na terça-feira (8/9), do segundo seminário “Clínica na Pós-modernidade”, em que professores, estudantes e especialistas debateram os caminhos da psicologia nos últimos tempos. O evento, que trouxe estudiosos da França para fazerem exposição de suas análises, foi também responsável pelo lançamento do livro “Clínica na pós-modernidade – formas de subjetivação, formas de violência e formas de dessimbolização”, organizado por Ana Szapiro.
A abertura do seminário foi feita pelas organizadoras do evento, Ana Szapiro e Rosa Pedro, coordenadoras do programa EICOS/IP/UFRJ, que apontaram a importância da realização de encontros como este, além de agradeceram aos colaboradores que, segundo elas, “foram imprescindíveis para que tudo pudesse ocorrer”. Uma atenção especial foi dada ao professor Milton Flores, ao qual Ana se referiu como o principal incentivador.
A conferência de abertura, que contou com tradução simultânea, foi realizada pelo filósofo e professor de Comunicação da Université Paris 8 Dany Robert Dufour. O francês intitulou sua apresentação com um nome curioso, “Bambi, o sintoma”, ao qual se referiu em tom irônico como fruto de uma rodada de caipirinhas. “Quando vi a bizarrice do título ele já havia sido divulgado”, brincou.
"Bambi", na verdade, se trata do apelido dado pelo povo americano ao cantor Michael Jackson, este sim o objeto central da análise feita pelo professor Dufour. Após uma breve introdução, em que citou Freud – “As grandes obras coincidem muito com anomalias psíquicas” -, o filósofo comentou a morte do cantor, para ele “um dos grandes eventos midiáticos da Pós-modernidade”. Segundo suas pesquisas, no dia do ocorrido a busca pelas músicas do astro na internet aumentou em 942%, seu nome voltou ao primeiro lugar dos mais vendidos e as vendas chegaram a ultrapassar os números do lançamento. Sobre os dados, questionou: “A questão é saber o que uma multidão como essa procura?”. Após ponderar, completou: “Levanto a hipótese de que essa população estava chorando por sua própria dor”.
“Todos nós temos algo de Michael Jackson”
A frase acima, dita pelo ministro da Cultura francês, foi utilizada para que se inferisse o olhar sobre a fascinação que “Bambi” causou na humanidade. Segundo Dufour, as multidões se reconheceram nele por causa de sua permanência na infância, a partir do momento em que não quis aceitar as mudanças e continuou a desafiar limites. Segundo o professor, a criança é um ser sem limites, e é aí que está seu charme. O cantor teria desafiado todos os limites, “ele é branco-negro, jovem-velho, criança-adulto, homem-mulher, santo-demônio”, analisou.
Ao pontuar a questão dos limites, o professor de Comunicação fez um paralelo com outras entidades que desafiam limites: as religiões. Disse que “elas divulgam a quebra do maior dos limites, que é a promessa de uma vida após a morte”. Ao seguir a linha de raciocínio, apontou o mercado como a mais nova religião dominante, em que é possível realizar todos os desejos. A partir daí fez a relação do chamado Rei do Pop com as ilimitadas possibilidades que a fortuna lhe proporciona, como, por exemplo, ter pago para que uma enfermeira tivesse um filho para ele e depois sumisse. Com as supostas palavras “Eu vou ser a mãe dos seus filhos”, ele teria dispensado a mãe por apenas alguns milhões de dólares.
Após uma crítica à falta de estudos de casos dos últimos tempos, o filósofo francês aferiu em conclusão, tendo apontado a negação dos limites, o consumo de drogas e o dinheiro como símbolos da nossa época, e que “ser pós-moderno é dar um jeitinho no incurável”.
O seminário aconteceu nos dias 8 e 9 de setembro, das 9h às 17h, na Casa da Ciência, rua Lauro Müller, 3, Botafogo. Mais informações: 2562-6355 ou 2562-6356.