O Sistema de Bibliotecas e Informação (SiBI) da UFRJ promoveu, a partir dessa terça-feira (8/9), a terceira edição do Seminário do Projeto Memória, intitulado A Universidade e os seus lugares de Memória II. O Salão Dourado foi palco de debates e apresentações sobre temas relacionados à memória, documentação e pesquisa.
A primeira conferência teve como palestrante Camila Dantas, doutoranda da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), que procurou discutir passado e presente nos registros digitais. Seu ponto de partida foi a evolução que o meio virtual sofre e como esse fato representa uma transformação para análise de arquivos e memórias, que agora passam a ser cada vez mais digitalizados.
Camila explica que assim como as conexões físicas entre os diferentes grandes computadores tornaram-se globais, o mesmo aconteceu com as ligações comunicacionais. Dessa forma, o que se deve pensar e discutir é a consequência e como atuam essas novas redes. Mas segundo ela, é preciso que haja um estudo analítico e não apenas pessimista ou utópico, como se dividiam muitos dos primeiros teóricos. Havia apenas aqueles que acreditavam que internet e suas redes seriam promessas de democratização ou outros que faziam críticas, apontando o que seria o fim dos modelos tradicionais de estudo, apoiados pela materialidade do livro.
Novas ferramentas
“Hoje, vivemos a transformação do macro para o micro”, garante Camila. Para ela, um bom exemplo são os grandes meios de comunicação que perdem cada vez mais lugar para sites de rápida e instantânea divulgação, como o Twitter. Mas até onde vai a democracia? Recente pesquisa internacional sobre o aplicativo mostra que de uma rede formada por aproximadamente 100 pessoas, apenas cinco são geradoras de conteúdo. As outras 95 têm perfis passivos (só recebem conteúdo) ou inativos. Portanto, é preciso haver um balanço entre ferramentas e usuários.
Sobre as contribuições virtuais para o universo das memórias e documentação, não se pode negar que novas ferramentas estão sendo utilizadas e que precisamos pensar sobre elas. Há, por exemplo, o Internet Archive, considerado o maior arquivo digital da internet. Apoiado pela Unesco, o projeto reúne todas as informações digitalizadas até hoje e fomenta a discussão acerca da real imaterialidade do meio.
O aparato que a pesquisadora considera mais revolucionário é o BBC Memory Share, que consiste em um grande acervo de memórias dos usuários, baseado no tradicional testemunho. Assim como ele, funciona o BBC People’s War, que é um pouco mais específico, por se tratar de relatos relacionados às lembranças dos ingleses sobre suas vidas durante a Segunda Guerra Mundial.
“Precisamos entender que esses estudos são apenas analíticos e não se pode chegar a conclusões certas ainda. A mudança ainda está em curso e estamos lidando com um fenômeno muito recente. Nós, que lidamos com acervos de memórias, não podemos apenas criticar esses novos recursos tecnológicos, mas devemos também utilizá-los para nosso interesse”, defende Camila.
O evento prossegue na quarta-feira (9/9), quando são realizadas conferências e uma mesa-redonda sobre o tema Memória, Preservação e Restauração.