O curso de extensão “Direitos Humanos em Tela”, do Núcleo de Políticas Públicas em Direitos Humanos (NEPP-DH), iniciou sua quarta edição na última quarta-feira, dia 25, com a exibição do filme Colcha de Retalhos. Em seguida, houve debate no auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) com a socióloga Solange Dacach, membro do movimento feminista, e com Ana Lúcia Soutto Mayor, coordenadora de Extensão do NEPP-DH e professora do Colégio de Aplicação da UFRJ.
O filme Colcha de Retalhos (1995) mostra a vida de mulheres experientes e de uma menina que acaba de chegar à fase adulta e precisa tomar decisões em relação ao futuro, tanto profissional quanto amoroso. A colcha de retalhos funciona como alusão às histórias de cada uma das personagens, que se entrelaçam em torno de problemáticas do universo feminino, como casamento, monogamia, filhos e liberdade sexual, dentre outros temas, que aparecem à medida que a colcha de retalhos toma forma nas mãos de costureiras.
Ana Lúcia Soutto Mayor, doutora em cinema e literatura, avaliou os elementos de linguagem do filme em relação à memória:
— A memória humana é seletiva e um conjunto de fragmentos. O cinema trabalha com planos. Assim, pensar o filme como um conjunto de planos é construir uma colcha de retalhos, tecendo passado, presente e futuro.
Solange Dacach comparou as reuniões do movimento feminista com a reunião das costureiras do filme, ressaltando a importância de compartilhar histórias em grupo:
— Lembro-me de quando nós sentávamos para fazer reflexões sobre a sociedade feminina. Estendíamos um papel pardo no chão e conversávamos sobre as nossas vidas desde o nascimento, sobre o ser mulher até ali. Ao mesmo tempo em que resgatávamos nossas semelhanças relacionadas ao nosso corpo, à nossa sexualidade, resgatávamos também nossas diferenças naquela reunião, a qual chamávamos de “Linha da Vida”. Assim, percebíamos o quanto era importante costurar nossas histórias num momento de troca de experiências.
Irreverente, Solange citou Leila Diniz, ícone da liberação sexual feminina no Brasil, para ilustrar a necessidade de libertação dos valores tradicionais da sociedade das décadas de 50, 60 e 70. O casamento, segundo ela, é um modelo ainda preso aos tradicionalismos, estando muito ligado também à ideia de eternidade: “Na igreja o padre nunca falou ‘até que o tesão nos separe’”, brinca.