As deficiências do processo educacional brasileiro constituem uma grave ameaça à democracia. A conclusão é do professor do Instituto de Física da UFRJ (IF/UFRJ) Luiz Davidovich, que expôs diversas preocupações com o ensino e a competitividade econômica do país, na aula inaugural dos alunos do curso de Matemática realizada no início da tarde da segunda-feira (17/3), no auditório Horácio Macedo, o Roxinho.
Ao abordar o tema “Educação básica, educação em ciências e o desenvolvimento nacional: caminhos e obstáculos”, o professor Davidovich, que também é diretor da Academia Brasileira de Ciências (ABC), fez uma viagem no tempo para tentar esclarecer as razões pelo atraso educacional do Brasil frente a outras nações.
Segundo ele, enquanto nos EUA, a Universidade de Harvard surgia em 1636, por aqui a Corte portuguesa proibia a circulação de impressos e o desenvolvimento das manufaturas. Só a partir de 1808, com a fuga para o Brasil da família real, as demandas por médicos, engenheiros e advogados provocaram o aparecimento das primeiras instituições para difusão do conhecimento.
— As primeiras universidades, porém, só surgiram no século XX. Tivemos de fazer uma verdadeira corrida contra o tempo para desenvolver a ciência no Brasil. Apesar disso, conseguimos avanços extraordinários — afirmou.
Davidovich exemplificou com o desempenho da indústria aeronáutica, a prospecção de petróleo em águas profundas ou a divulgação nos melhores periódicos do mundo de pesquisas brasileiras, entre outras atividades que requerem elevados níveis de conhecimento. Todavia, segundo ele, toda a tecnologia brasileira é gerada por apenas uma parcela da população. “Tiramos nossos craques (em ciência) de muitos poucos brasileiros”, disse o diretor da ABC, que lamenta o fato de desprezarmos o contingente populacional como vantagem competitiva.
De acordo com o professor, as idéias que estruturaram a palestra se basearam na publicação O ensino de ciências e a educação básica: propostas para superar a crise, disponível no site da ABC (www.abc.org.br). O livro apresenta 31 propostas envolvendo melhorias no sistema educacional.
Por mais de uma vez, o professor reiterou a necessidade de valorização dos profissionais de educação nos ciclos básicos. Segundo Davidovich, na ABC a educação é fundamental não só para o desenvolvimento do país do ponto de vista tecnológico, mas também para fortalecimento e sustentabilidade de nossa democracia. “Do ponto de vista imediato, o que vemos são os estados paralelos, que é uma forma de rebeldia desorganizada, a do bandido. Mas a falta de entendimento de questões básicas para a maioria da população pode gerar variantes de sistemas não-democráticos, fruto da ignorância”, concluiu ele.