Em artigo publicado na edição desta quinta-feira (15/01) do jornal O Globo, o Reitor Aloisio Teixeira e Carlos Vainer, integrante do Comitê Técnico do Plano Diretor da UFRJ, reforçam a necessidade de reaproximação da Universidade com a cidade e o estado do Rio de Janeiro. Segundo o artigo, a opção de se concentrar a instituição em uma ilha promoveu um isolamento entre a Universidade e a vida urbana, fato aprofundado durante o regime militar. “Assim, ao longo do tempo, cidade e universidade viveram vizinhas e distantes. De nosso lado, elitismo herdado dos tempos da universidade bacharelesca, aprofundado sob a ditadura. Do lado da cidade, incompreensão das possibilidades que a cooperação sistemática e abrangente poderia trazer para seu desenvolvimento”, reforça o artigo.
Aloisio e Vainer apontam, no entanto, que esta situação começa a mudar com a adoção de um Plano de Expansão e Reestruturação e a elaboração de um Plano Diretor para a Cidade Universitária. “O princípio que norteia o novo plano é o da dupla integração — interna à universidade e entre a universidade e a cidade. Trata-se de reunir progressivamente o conjunto das unidades na Cidade Universitária, favorecendo as articulações entre diferentes cursos e programas de ensino e pesquisa e estimulando as experiências pluridisciplinares que são uma exigência da revolução científica e das novas demandas sociais”, concluem.
Veja abaixo a íntegra do artigo.
Reencontro marcado
Aloisio Teixeira e Carlos Vainer
O Rio se orgulha de suas universidades, tanto quanto nossas universidades se orgulham de sua cidade. Essa relação, no entanto, tem sido marcada pela incompreensão, quando não pela total incomunicabilidade. A Universidade Federal do Rio de Janeiro é um bom exemplo: nos anos 40, quando se decidiu reuni-la em um único local, optou-se por uma ilha, para evitar que a vida urbana “poluísse” o quotidiano de estudantes e professores.
Anos depois, durante o regime militar, o isolamento pretendeu impedir que o vírus da resistência democrática contaminasse a cidade. Assim, ao longo do tempo, cidade e universidade viveram vizinhas e distantes. De nosso lado, elitismo herdado dos tempos da universidade bacharelesca, aprofundado sob a ditadura. Do lado da cidade, incompreensão das possibilidades que a cooperação sistemática e abrangente poderia trazer para seu desenvolvimento.
Esta situação começa a mudar. A UFRJ deu um passo, adotando um Plano de Expansão e Reestruturação que levará à ampliação do número de vagas, sobretudo em cursos noturnos. O objetivo é passar dos atuais 45.000 estudantes para 95.000 em 2020. Se somarmos os usuários de nossos serviços, os visitantes e o pessoal dos centros de pesquisa instalados na Ilha, chegaremos a um fluxo diário da ordem de 120 mil pessoas em 2020. O segundo passo será a elaboração de um arrojado Plano Diretor, cujas diretrizes já foram aprovadas pelo Conselho Universitário, que vai redefinir os padrões de relacionamento universidade-cidade.
O princípio que norteia o novo plano é o da dupla integração — interna à universidade e entre a universidade e a cidade. Trata-se de reunir progressivamente o conjunto das unidades na Cidade Universitária, favorecendo as articulações entre diferentes cursos e programas de ensino e pesquisa e estimulando as experiências pluridisciplinares que são uma exigência da revolução científica e das novas demandas sociais.
Para nós, o Rio deixará de ser endereço para se tornar um compromisso: a UFRJ, além de centro de ensino e pesquisa de excelência, será também um polo de ciência e tecnologia, de cultura, esporte e lazer. Incubadoras de empresas, parque tecnológico, museus, teatros e cinemas, parques de exposição, centros de serviços e comércio, novos e modernos equipamentos esportivos serão ali instalados. Os moradores e visitantes encontrarão na Cidade Universitária um espaço renovado de vida cultural. Os citadinos e, sobretudo, os alunos das escolas de ensino fundamental e médio visitarão museus e exposições e se familiarizarão com o espaço universitário, antes mesmo do vestibular — no qual o sucesso será mais fácil alcançar no futuro.
Os sinais de uma nova relação entre a cidade e a universidade, entretanto, nos vêm também do outro lado. A começar pelo compromisso do governo estadual de assegurar uma nova ligação ferroviária entre a Ilha do Governador e a Central do Brasil, com estações no Galeão, na Cidade Universitária e em Bonsucesso. Também está sendo elaborado o projeto da nova ponte de acesso à Linha Vermelha, solucionando o problema dos engarrafamentos que infelicitam universitários e moradores da Ilha do Governador. Ainda nesse terreno, a proximidade da Copa do Mundo de 2012(*) recomenda acelerar os estudos para a ligação entre os dois aeroportos, que poderá utilizar a tecnologia inovadora, desenvolvida pela UFRJ, de um veículo leve movido por levitação magnética (Maglev). Igualmente importante é o convênio entre a UFRJ, a Secretaria estadual de Ambiente e a Petrobras para dragagem do Canal do Fundão, essencial para o resgate da baía.
A UFRJ é também uma unidade econômica de primeira grandeza, gerando 13 mil empregos diretos e rendimentos do trabalho superiores a R$ 1,2 bilhão por ano; é, ademais, grande proprietária de terras, com mais de 5.240.000m2 apenas na Cidade Universitária. Evidentemente, o desenvolvimento urbano dessa área é de interesse de todos e, em particular, dos moradores da Ilha do Governador, da Comunidade da Maré e da Zona da Leopoldina, com seus quase 500.000 habitantes. E todos devem participar desse processo de discussão, via Conselho Participativo do Plano Diretor.
A universidade, a cidade e o estado têm um (re)encontro marcado.
ALOISIO TEIXEIRA é professor e reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
CARLOS VAINER é professor e integrante do Conselho Universitário e do Comitê Técnico do Plano Diretor da UFRJ.
(*) A Copa do Mundo de Futebol será realizada no Brasil em 2014 e não em 2012 conforme publicado.
(Artigo publicado na edição do Jornal O Globo de 15 de janeiro de 2009, Seção de Opinião, primeiro caderno, página 7)