Dança e cinema, duas formas de arte que, embora possam parecer distantes sob um olhar desatento, estão em constante diálogo. É o que vem mostrando, desde a última quarta-feira (22/10), o I Fórum de Dança e Vídeo da UFRJ. Com atividades programadas até o dia 25, o evento é organizado pelo Grupo de Pesquisa Projetos e Estudos em Cinema e Dança (PECDAN), da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da UFRJ, e faz parte do programa “Reconstruindo o corpo coreográfico: perspectivas dialógicas da dança com o vídeo”.
Além de oficinas de câmera, vídeo e montagem, o primeiro dia do Fórum contou com a exibição do filme “Devoção”, seguida de debate com o diretor, Sérgio Sanz. Já no dia 23, aconteceu, no Auditório Maria Lenk, da EEFD, a mesa-redonda “Interatividade Dança e Vídeo: Memórias”. Sob a mediação da professora Silvia Franchini, do Departamento de Arte Corporal (DAC/EEFD), o produtor cultural Leonel Brum e o pesquisador Hernani Heffner buscaram traçar um panorama histórico do encontro entre as duas artes.
Curador do festival “Dança em Foco”, o primeiro no Brasil a se dedicar ao tema, Leonel Brum explicou o que define como videodança: “Um trabalho, para ser considerado videodança, deve envolver uma idéia de dança que possa ser realizada apenas por meio da linguagem audiovisual. No entanto, acho que perdemos muito tempo com definições em vez de estarmos produzindo”.
Brum ressaltou ainda o pioneirismo da cineasta ucraniana Maya Deren na fusão entre as duas linguagens. Segundo o produtor cultural, a artista, que também era bailarina e coreógrafa, desenvolveu um papel fundamental durante a vanguarda norte-americana dos anos 1940, realizando experimentações com as técnicas cinematográficas. “Em seus trabalhos, a câmera não representa apenas o olhar do espectador passivo, mas é responsável também pela criação da performance, o que tornar o espaço um participante dinâmico da coreografia”, ressalta o palestrante.
Para Silvia Franchini, o legado da artista ucraniana esteve em estabelecer em seus trabalhos pontos em comum entre as duas formas de expressão. “Como dançarina e coreógrafa, Maya Deren procurou um diálogo da dança com o cinema. A cineasta percebeu que o movimento não era o único elemento em comum entre os dois, existindo ainda o tempo, o espaço, o ritmo e a forma”, destacou a professora.
No Brasil, Leonel Brum chamou a atenção para a importância da bailarina e coreógrafa Analívia Cordeiro, precursora da videodança no país. “Analívia Cordeiro foi uma das primeiras, no Brasil, a desenvolver trabalhos que mesclavam as duas linguagens. Em 1973, com o vídeo M3X3, foi considerada uma das pioneiras da videodança no país por Arlindo Machado”, afirmou o curador.
Hernani Heffner, por sua vez, destacou uma das produções cinematográficas mais famosas na História do Cinema por aproximar a dança e a sétima arte, o filme “Pas de Deux” (1967), de Norman McLaren. De acordo com ele, para o diretor escocês, a produção representava uma forma de experimentação da linguagem cinematográfica e, ao mesmo tempo, uma homenagem às origens do Cinema. “Há, nesse filme, um dado muito particular que inviabiliza qualquer percepção de espaço. O espectador consegue ver apenas o fundo negro e a silhueta dos bailarinos. Não há mais nenhuma informação”, observou o professor do curso de Cinema da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
Segundo Heffner, o diretor escocês acreditava que o principal elemento em comum entre as duas linguagens estava no movimento. “Para McLaren, as origens do cinema se confundiam com algo que seria essencial ao universo da dança, isto é, a idéia de movimento. No entanto, movimento não como deslocamento no espaço, mas sim como algo que é decomposto, analisado e fragmentado pelo aparato cinematográfico. Tal experiência de decomposição parece indicar que, se existe algo em comum entre dança e cinema, é a própria idéia de movimento – o movimento que cria outras dimensões”, afirmou o ainda conservador-chefe da Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM), do Rio de Janeiro.
O I Fórum de Dança e Vídeo da UFRJ continua até amanhã, dia 25. As atividades acontecem na EEFD, que fica na Avenida Carlos Chagas Filho, número 540, Cidade Universitária. Para mais informações sobre a programação, acesse http://www2.eefd.ufrj.br/files/programacao_versao3.pdf.