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Vizinhos sul-americanos debatem sobre saúde, violência e ciência na UFRJ

Na manhã desta terça-feira (23/09), como parte da programação da oficina Brasil: O Olhar Sul-americano, promovida pelo Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ, ocorreu uma série de palestras que visavam debater aspectos do Brasil a partir do ponto de vista de outros países do continente. O evento, que foi realizado no Salão Moniz de Aragão e que teve como relator Ênio Candotti, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), também tinha como objetivo refletir sobre o processo de integração socioeconômica entre a nação brasileira e os demais países da América do Sul.

Um dos tópicos principais de qualquer debate sobre o Brasil é a saúde pública. Este tema ficou a cargo de César Hermida, do Equador, que fez questão de evidenciar o seu descontentamento com a situação atual da área: “Na América do Sul, a saúde pública de qualidade ainda é uma utopia” – afirmou Hermida. Ele também comentou o surgimento do princípio de saúde coletiva, que contou com a colaboração do brasileiro Sérgio Arouca, e que foi essencial para a construção de políticas públicas, em vários países sul-americanos, que visualizassem a saúde como um bem de todos, e não como algo a ser comercializado. Uma dessas políticas citadas pelo professor equatoriano foi a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, para César Hermida, a atuação das universidades “é essencial para o questionamento dos pontos negativos da globalização, principalmente na área da Saúde, aonde a igualdade e a dignidade muitas vezes não são respeitadas”.

A produção científica brasileira foi analisada por Francisco de La Cruz, físico argentino, que construiu sua argumentação a partir de um questionário feito por ele a colegas de profissão de mesma nacionalidade. Em sua palestra, ele ressaltou a importância do incentivo estatal e privado para a produção de conhecimento, que pode vir a proporcionar inovações benéficas para a sociedade. Outro tópico levantado em seu discurso foi a abertura e as condições favoráveis para a emigração de estudantes e cientistas estrangeiros demonstradas pelas universidades brasileiras. Além disso, Francisco de La Cruz também fez uma comparação tecnológica entre Brasil e Argentina, afirmando que existe uma superioridade brasileira nesse quesito.

Outro aspecto brasileiro que é bastante conhecido internacionalmente é a violência nos grandes centros urbanos brasileiros, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Myriam Jimeno, antropóloga colombiana, apresentou as percepções que as pessoas de seu país têm do assunto em questão, além de estabelecer uma comparação entre Colômbia e Brasil, na qual ela deu mais ênfase as diferenças: “No Brasil, a violência não está ligada a movimentos de esquerda ou de direita, enfim, não há uma forte politização.” – afirmou Myriam Jimeno. Para a professora, a violência nas cidades brasileiras, quando noticiada em seu país, está sempre ligada ao excesso da ação da policia, à corrupção da mesma, e ao tráfico de drogas. Uma passagem de destaque em seu discurso foi a diferenciação entre o contexto de violência em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na primeira cidade, as ações com esse caráter agressivo ficam mais evidentes nas áreas mais pobres, isoladas geograficamente. Já na Cidade Maravilhosa, as classes sociais, por mais distintas que sejam, se localizam no mesmo espaço, logo todos os grupos se encontram em situação perigosa.

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