Pesquisadores e estudantes do campo da Psiquiatria se vêem cada vez mais instigados para compreender e decifrar distúrbios mentais como as alucinações. Elas podem se manifestar de diversas formas, seja através de uma luz, um barulho, uma pessoa ou até mesmo de um odor. Esse estado psicológico consegue afetar os sentidos, como a visão e a audição. Em relação ao campo auditivo, se dá a alucinação auditiva verbal, que é quando o indivíduo tem a experiência de ouvir vozes que se dirigem diretamente a ele, frequentemente de forma ofensiva e desabonadora, dando ordens ou comentando o que o sujeito faz.
De acordo com Octávio Domont de Serpa Júnior, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em Psiquiatria, Psicanálise e Saúde Mental, o diagnóstico dessa doença geralmente é feito a partir do relato da experiência por parte de quem ouve vozes, mas também existem outros fatores. Os indicadores indiretos – ou a chamada “atitude alucinatória” – tais como: olhar subitamente para os lados ou para trás, como se ouvisse alguém chamar, solilóquios sussurrados, uso de tampão nos ouvidos, associados à presença de outros sintomas, também podem sugerir a experiência.
Escutar vozes é realmente uma experiência perturbadora para qualquer um, seja a pessoa já portadora de alguma doença psíquica ou não. Segundo Octávio Domont, como qualquer comportamento humano estranho, ela provoca no sujeito a procura de um entendimento. Para agravar o quadro, geralmente quem sofre de alucinação auditiva verbal se engaja nesta busca de forma solitária, pois teme que a percepção social, incluindo a dos psiquiatras, e que geralmente é desqualificante, o associe à loucura. É o que aponta o professor: “A conseqüência mais imediata é o isolamento social e o sofrimento continuado”.
Mas essa solidão vem sendo combatida. Com o financiamento da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), há três anos, a equipe do Laboratório de Psicopatologia e Subjetividade, que é coordenada pelo professor Octávio Domont Júnior, comanda um grupo de ouvidores de vozes que se reúne uma vez por semana no Centro de Atenção Diária do IPUB. Para o professor, o objetivo do projeto é: “agregar pessoas que passam por esta experiência, conjuntamente com profissionais de saúde mental, nos quais os participantes podem compartilhar estratégias para lidar com a experiência de ouvir vozes e podem, individualmente, construir um sentido que permita integrá-las à sua história de vida”.