Hoje começaram as atividades do simpósio Diretrizes no Tratamento de Transtornos Mentais, em comemoração aos 70 anos do Instituto de Psiquiatria (IPUB), e se estendem até sábado, dia 5 de julho. Foram realizados diversos mini-cursos durante a manhã desta quinta-feira, dia 3, dentre eles o intitulado Diagnósticos e tratamento de depressão na infância que contou com uma palestra sobre suicídio infantil e adolescente ministrada por Regina Reis, professora convidada e coordenadora do Projeto Ansiedade e Depressão na Infância e Adolescência (Proadia), ligado ao Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Instituto de Saúde da Comunidade (CCM) da Universidade Federal Fluminense (UFF).
— A taxa de suicídio vem aumentando progressivamente nas últimas quatro décadas — disse Regina que revelou também que o suicídio é hoje, nos Estados Unidos, a 4ª causa de morte em crianças de 10 a 15 anos e a 3ª causa entre jovens de 15 a 25 anos. Um dado alarmante sobre o qual não se ouve muita discussão na sociedade.
Segundo a psiquiatra, os principais fatores de risco para o suicídio infantil e adolescente são: a depressão, o fato de ser do sexo feminino, o abuso de drogas ou álcool, situações psicosociais recentes (como a mudança de escola e casa ou a separação dos pais e o fim de um namoro), baixa auto-estima, acesso a armas de fogo, tentativas anteriores de se matar e a ausência de tratamento psicológico após a primeira tentativa.
O número de tentativas de suicídio é muito maior entre o sexo feminino e, diferentemente dos homens que em geral apresentam apenas uma tentativa, “as mulheres passam mais tempo durante a vida planejando a própria morte”, afirma Regina, acrescentando que mesmo que a criança não tenha acesso a armas de fogo, a sua convivência cotidiana com elas constitui uma área de risco que facilita a idealização do suicídio. “As principais tentativas entre crianças e jovens acontecem por armas de fogo, enforcamento e super-dosagem de drogas e medicamentos”, disse a palestrante.
Os pais devem estar atentos para os indícios da possibilidade do suicídio de seus filhos. Dentre os fatores que o pronunciam estão a tristeza freqüente, o desespero, a fácil irritabilidade e a manifestação do desejo de estar morto. Nem sempre esses sintomas são nítidos nas crianças. A depressão, a causa mais comum do suicídio, não é tão facilmente identificável na infância como é na vida adulta. “Nem sempre a tristeza é aparente e por isso é importante observar se há na criança a perda de interesse pelas atividades que habitualmente eram interessantes e um aborrecimento ou falta de ânimo diante das atividades de recreação”, observa a psiquiatra.
– É muito comum que jovens que pretendem o suicídio distribuam pertences seus entre amigos e familiares ou escrevam cartas e bilhetes aos mais próximos. Frases como ‘Eu sou um peso para vocês’ e ‘Eu nunca vou ser feliz’ também são freqüentes em casos de suicidas em potencial – esclarece Regina.
Logo após a tentativa de morte, a criança ou o jovem deve ficar hospitalizado por um período mínimo de 48 horas, em que estará sob observação e recebendo tratamento farmacológico. Passada a internação o correto é encaminhar a pessoa para um ambulatório de psiquiatria infantil e adolescente onde ela receberá o tratamento adequado que deverá ser continuado.
A grande maioria das depressões em adolescentes e crianças, de acordo com a especialista, pode ser superada e controlada pela intervenção ambulatorial e através do apoio familiar e da escola, evitando chegar ao estágio de suicídio. Em muitos casos, a tentativa de suicídio infantil não é levada a sério, é vista como forma de chamar atenção e deixada de lado pelos pais e familiares que não provêm à criança a assistência psicológica necessária. ”O mito de que as crianças não cometem suicídio impede que o psiquiatra investigue essa condição clínica e atrasa o começo do tratamento” concluiu Regina.
Durante o restante simpósio do IPUB os participantes podem assistir apresentações livres em pôsteres e mesas-redondas. Para conferir a programação completa acesse www.ipub.ufrj.br.