Aparentemente inusitada, a combinação arte e ciência se desenvolve talentosamente pelas mãos de Walmor Corrêa. O artista plástico participou hoje da conferência organizada pelo Programa Avançado de Neurociências do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e pelo Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), expondo com mais detalhes seu trabalho.
À frente do evento, Maira Fróes, professora do Laboratório de Neuroanatomia Celular do ICB, alerta para a importância de trazer para o ambiente universitário a discussão em torno da arte como difusora de conceitos acadêmicos e científicos. “A fusão arte e ciência é fundamental para tornar menos árida a absorção de saberes científicos. E o trabalho de Walmor Corrêa é decisivo para isso. No Brasil, esse artista carrega de forma emblemática o timbre da conjugação entre imaginário, arte e ciência”.
Remontando ao Renascimento, as obras de Walmor representam um instrumento de alcance profundo nas questões do que é possível em ciência. Retratando híbridos, ou seja, animais improváveis, o artista acaba por tornar a ciência, dentro de uma linguagem artística, uma solução para as questões do imaginário.
Walmor explica que a junção entre ciência e arte ocorreu casualmente em sua vida. “Quando criança, já gostava muito de desenhar e fui convidado pelo professor de Ciências do colégio para participar das aulas em laboratório. Eu registrava em imagens os órgãos dos animais que eram dissecados. E, desde então, minha curiosidade por essa área se tornou crescente”.
E junto à curiosidade, cresceu também a pesquisa. Para produzir a série de Híbridos que compõem seu trabalho, Walmor desenvolve pesquisas que contam com a ajuda de especialistas em anatomia humana e animal. “Não me interesso por trabalhar diretamente com ciência. Nunca quis ser médico ou cientista. Por isso, para mim, diversão é fundamental, pois é justamente ela que impede que a arte se torne ciência”.
Walmor explicou ainda que seu objetivo é ser o mais verossímil possível. “Ao criar animais híbridos, faço o possível para convencer o observador de que aquele é um ser possível. Para isso, crio nomenclaturas científicas em alemão, bem como uma descrição para o animal”. Atualmente, além dos desenhos, o artista catarinense trabalha com esculturas, sendo seu projeto mais recente relacionado ao mapeamento cognitivo de celebridades de seu interesse, como Oswald de Andrade e Madame Satã.
Conquistando o público que lotou o auditório, Walmor recebeu efusivos aplausos, evidenciando a real possibilidade de que a arte se constitua, de forma poética e prazerosa, como um veículo de expressão de conceitos científicos.