Na última segunda-feira, 3 de junho, a Escola de Serviço Social da UFRJ (ESS) promoveu a quarta edição da Jornada de Intercâmbio de Trabalhos de Serviço Social na Área da Saúde do Estado do Rio de Janeiro. O evento reuniu especialistas da área de serviço social no auditório Halley Pacheco, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF). Dentro do Hospital, ainda em meio à crise, o assunto não poderia ser diferente. Na mesa de abertura, o clima era de indignação e tristeza a respeito da crítica situação vivida pela Instituição.
Para a cerimônia, compareceu Ana Maria Borralho, diretora da Divisão Médica do HUCFF, acompanhada de Maria das Graças Soares, diretora da Divisão de Apoio Assistencial do HUCFF e Eliza Regina Ambrosio, chefe do Serviço Social. “Apesar das forças externas dos nossos dirigentes quererem minar a produção do Hospital, resistiremos bravamente e manteremos nosso Hospital de pé. Temos que lutar e vamos vencer”, declarou Borralho, que ocupava o lugar de Alexandre Cardoso, diretor da unidade, que não pôde comparecer à cerimônia.
Maria das Graças Soares ressaltou a coragem da Escola de Serviço Social em manter um evento em meio à crise. Apesar de admitir que o Hospital está em uma situação limite, Soares também ressaltou a importância do HUCFF para a ESS e para a UFRJ como um todo. “Nesse momento precisamos nos unir, porque precisamos ter um campo de treinamento, com profissionais capacitados e insumos para que possamos tratar a população que aqui vem em busca de atendimento, além de formar novos profissionais de qualidade”, alertou a doutora.
Serviço social e a Reforma Sanitária
A primeira conferência do encontro teve como tema uma reflexão sobre a relação entre o serviço social dos hospitais universitários e o projeto da Reforma Sanitária. As conferencistas convidadas para abordar o assunto foram Fátima Maria Masson, assistente social do Instituto de Ginecologia da UFRJ e Sara Granemann, professora doutora da ESS. A Reforma Sanitária foi um movimento da década de 1970, que culminou na VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, que defendia na saúde um dever do Estado e um direito de todos, princípios do Sistema Único de Saúde, da Constituição de 1988.
Masson destacou a importância do ambiente da Universidade para a formação de opiniões e discursos sobre a saúde e a sociedade. “Foi no espaço da universidade, articulado com os movimentos sociais pela democratização da sociedade brasileira (uma ação política e uma ação teórico-crítica) onde foram encaminhadas as idéias e princípios de mudança da saúde coletiva”, ressaltou.
Para a professora, a contribuição das idéias de Karl Marx foi significativa na construção das bases da Reforma. “A teoria social de Marx foi bastante utilizada, ainda que com alguns problemas na sua apropriação nesse período”, afirmou Fátima Masson.
Capitalismo, comunismo e SUS
Em 2008, os especialistas em saúde pública do Brasil têm muito a refletir. Nesse ano, o Sistema Único de Saúde completa 20 anos de funcionamento. Segundo a assistente social, o SUS é apenas uma parte da Reforma Sanitária. “São necessárias condições de trabalho para que os profissionais tenham autonomia intelectual e autonomia operativa, para podermos implementar uma proposta cuja direção social tenha um espírito claramente socializante”, opinou a professora.
Para Fátima Masson, assim como Sara Granemann confirmaria na conferência seguinte, o neoliberalismo e os problemas do sistema capitalista são claros obstáculos a uma saúde universal de qualidade. “Uma onda enorme neoliberal se pôs diante do nascimento do SUS e da luta da Reforma Sanitária. Ela está penetrada em todos os espaços da nossa vida cotidiana. Também penetra nas nossas formas de produção do conhecimento, nas nossas formas de avaliação e formação profissional”, argumentou a professora.
Sara Granemann, que reivindica ser reconhecida como uma revolucionária comunista, também apontou o sistema capitalista como fator responsável pelos distúrbios do sistema da saúde do Brasil. Passando por temas como privatizações, a professora fez uma análise da instalação do neoliberalismo no Brasil.
Segundo ela, a própria ideologia do modelo capitalista impede uma reflexão mais profunda. “A avalanche ideológica entra com muita força no plano cultural e as pessoas começam a sofrer pressões materiais concretas (perdas de emprego) e as pressões no campo mais subjetivo e aí as desarticulações das lutas são evidentes”, explicou Granemann. Apesar disso, na visão da professora, episódios como as manifestações pelo HUCFF demonstram que a classe “está saindo de um sono letárgico”, finalizou a professora.