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Falta matéria-prima para produção de biocombustíveis

 A Decania do Centro de Tecnologia (CT/UFRJ), em parceria com o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe/UFRJ), realizou na manha desta quarta-feira, 4 de junho, o “Encontro de Biocombustíveis”. O evento reuniu representantes das principais instituições de pesquisa do país para falar sobre o uso de biocombustíveis no Brasil e os principais projetos que estão sendo desenvolvidos nessa área.

Cristina Saba e Regina Lago, representantes do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Americo Miguez de Mello (Cenpes/UFRJ) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), respectivamente, revelaram um quadro preocupante. Segundo informaram, atualmente o Brasil está vivendo em um cenário B2, que consiste na colocação de 2% de biocombustíveis (referente a toda gasolina utilizada para transporte) no mercado, mas em julho esse cenário deve passar a B3 e não há, de acordo com as pesquisas realizadas, matéria-prima suficiente para o abastecimento. “Estamos tentando nos adaptar para atender às exigências do governo, mas essa é uma situação complicada”, informou Cristina Saba. 

O evento marcou o lançamento do projeto Fontes Alternativas de Energia (FALE), desenvolvido pelo CT/UFRJ com o objetivo de gerar pesquisas voltadas para a redução do consumo energético. “O FALE surgiu da junção de várias idéias, sobretudo quanto à realização de inúmeras pesquisas inovadoras, mas que convivem com comportamentos que nem sempre condizem com elas” –, informou o decano do Centro de Tecnologia que também esteve presente.

Os palestrantes apresentaram as áreas de atuação das empresas as quais representavam, bem como a preocupação com os biocombustíveis. “É a primeira vez que uma empresa como a Petrobras está destinando 1% dos seus investimentos até 2012, em biocombustíveis, além dos 58% em exploração e produção” –, informou Cristina Saba.

O Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Americo Miguez de Mello desenvolve pesquisas para Petrobras desde o ano em que foi fundado, em 1973. Ele atua nas áreas de meio ambiente, gás, refino, entre outras. A Petrobras atua em outros países, mas sobretudo na América Latina e África. Sua atuação junto à produção de energias renováveis visa contribuir para a viabilização de novas opções energéticas para o país. A representante do Cenpes informou ainda, sobre a importância das obras que estão sendo feitas na ilha da Cidade Universitária, no Fundão e que ampliam o espaço de trabalho da empresa, além da contração de novos funcionários, que voltou a ocorrer após 15 anos de estagnação.

Entre os principais desafios apontados pela palestrante, estava a viabilização da produção de óleos pesados em águas profundas. Cristina Saba apresentou, através de uma imagem ilustrativa, os recordes alcançados pela Petrobras na prospecção de águas profundas, principal tecnologia já desenvolvida pelo Cenpes para a empresa.

De acordo com Cristina Saba, um dos focos atuais da pesquisa é o bio-etanol de 2ª geração, não proveniente da cana, mas da mamona, entre outras fontes, e cuja produção este ano, 2008, entra em escala industrial. Há ainda um projeto desenvolvido pelo Cenpes localizado no Pólo Industrial de Guamaré, no Rio Grande do Norte, que pesquisa sobre a possibilidade de utilizar organismos marinhos, como as algas, na produção de biodiesel, embora isso ainda não seja viável.

De acordo com Regina Lago, representante da Embrapa, o plano nacional de agroenergia (2006-2011) da empresa, apresenta três vertentes principais: Desenvolvimento de tecnologia Agronômica; Desenvolvimento de tecnologia Industrial e estudos transversais. Elas se destinam à obtenção de matéria-prima, transferência para produção de energia e gestão territorial, respectivamente. “É preciso ter arranjos e organização para atender às áreas de meio ambiente, água, alimentos e balanço energético.” – declarou.

A Embrapa, criada em 1973, atua na busca por meios de se alcançar o desenvolvimento sustentável, ou seja, um desenvolvimento que supri as necessidades da geração atual e não prejudica as futuras. Recentemente, a empresa criou o projeto cana-de-açúcar que visa, entre outras coisas, promover uma fixação biológica de nitrogênio por bactérias na plantação da cana, cujos estudos remetem à década de 50, e que favorecem o aumento da produtividade e economia de fertilizantes. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária estuda ainda, novas fontes alternativas de matéria-prima para produção de energia.
 
Ao final do evento, os palestrantes se reuniram para debate com os ouvintes, quando foi levantado o problema do controle dos preços para trazerem oleaginosas (plantas que possuem óleos e gorduras que podem ser retirados através de processos específicos, e que são usadas na obtenção de biodiesel) de outras regiões para o sudeste. Segundo Cristina Saba, esse controle é feito pelo próprio diesel, e não pelas empresas.
 
As pesquisas desenvolvidas na área de biocombustíveis são voltadas para matérias-primas que possuem ciclo rápido. O azeite de dendê,que poderia ser uma opção para a produção de energia, leva, no entanto, cerca de 5 anos para ser produzido, o que o torna inviável. O próprio investimento em mamonas se relaciona, segundo informou Cristina Saba, para além da viabilidade, com questões políticas, visto o interesse do governo Lula na região Nordeste, principal local onde elas são produzidas.

– Biocombustiveis estão em pauta. O etanol é o 2º insumo da matriz energética brasileira. As pessoas precisam se conscientizar sobre a utilização de energias renováveis –, concluiu Walter Suemitsu, decano do CT.