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Biocombustíveis não são afetados por mudanças climáticas

De acordo com a pesquisa realizada por Roberto Schaeffer e Alexandre Salem Szklo, professores e pesquisadores do Programa de Planejamento Energético (PPE) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), a produção de biocombustíveis será uma das poucas áreas energéticas que não sofrerão alterações provocadas pelas mudanças climáticas, pois as principais regiões produtoras não terão suas temperaturas alteradas significativamente.

O estudo foi lançado no dia 2 de junho, e reuniu além dos pesquisadores, Walter Suemitsu, decano do Centro de Tecnologia; Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe; Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE); Jerson Kelman, diretor-geral da Agencia Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e outros.

– A iniciativa da pesquisa é de extrema importância dentro das atuais discussões sobre recursos renováveis e energia – declarou o decano.

O estudo, primeiro a ser realizado no Brasil, foi financiado pela embaixada do Reino Unido e levou cerca de 10 meses para ser concluído, com a participação de alunos e outros pesquisadores como André Frossard e Sergio da Cunha. Ele surgiu com o objetivo de poder avaliar os impactos nos cenários climáticos futuros sobre a oferta e demanda de energia no país, e a partir disso, propor medidas de adaptação.

– O Brasil é altamente depende de fontes renováveis, no entanto, embora seja importante investir nelas, o país precisa se preparar para o fato de que paradoxalmente, elas não são responsáveis pelo efeito estufa, mas são as que mais sofrem se houver mudança no clima, porque são as mais dependentes dele. O Brasil é um país com grande potencial de recursos energéticos, como o bagaço da cana, mas é preciso saber aproveitar melhor isso na geração de energia elétrica, por exemplo, o que, embora não seja feito, poderia compensar a perda de capacidade hidroelétrica – declarou Alexandre Szklo.

Segundo os dados da pesquisa, cerca de 85% do potencial energético brasileiro é relativo à hidroeletricidade. Com o aumento da temperatura, se eleva o uso do ar condicionado, o que leva a um acréscimo de até 9% na utilização de energia elétrica em residências. “Em se confirmando os dados preliminares do estudo, a região de maior risco quanto à variação climática, pelas alterações no regime de chuva e vazão, é a norte e nordeste, onde está nosso potencial hidroelétrico. É preciso aperfeiçoar o sistema para uma nova realidade”, informou Alexandre Szklo.

Os pesquisadores trabalharam considerando as expectativas para o setor energético em 2030, cujo potencial deve ser mantido em 2071, período levado em consideração em termos de mudanças climáticas. Serviram de base, os cenários A2 (elevadas emissões de efeito estufa) e B2 (baixas emissões). O Brasil hoje, está mais próximo do primeiro, pela quantidade de gases que são emitidos diariamente em queimadas e utilização de matrizes energéticas derivadas de combustíveis fósseis.

A região mais afetada pelas mudanças climáticas será a Norte e Nordeste. Além da questão hidroelétrica, de acordo com as perspectivas, o biodiesel, alternativa energética produzida a partir de recursos renováveis como soja e mamona, cuja produção está concentrada na região, e que deve se tornar inadequada com as variações do clima, vai sofrer graves conseqüências.

O potencial eólico é um dos que mais sofre redução, em torno de 30% a 60%, de acordo com as estimativas. No entanto, embora haja uma redução em termos territoriais, ela deve se concentrar em torno do litoral norte e nordeste.

Para resolver os problemas que possam aparecer no futuro, os pesquisadores sugeriram que fosse feita uma ampliação da base de dados climáticos no país, uso mais eficiente de energia e expansão da sua oferta através do aumento na produção do bagaço da cana, para produção de biocombustíveis e aproveitamento de resíduos urbanos (como lixo), entre outras coisas.

A pesquisa, que possibilita ao governo, estudar novos investimentos, mostra a redução na capacidade geradora de energia brasileira e a possibilidade de haver um aumento das disparidades econômicas entre o Nordeste e demais regiões, considerando o fato de ser ele a principal área afetada pelas mudanças climáticas.

– O Brasil precisa melhorar sua base de informações, para que possa começar a trabalhar a idéia de que a gestão do seu sistema de geração hidroelétrico pode ser afetada pela mudança de clima. Esse é o ponto novo da nossa pesquisa -, concluiu o pesquisador Alexandre Szklo.

Após o lançamento, os convidados da Eletrobrás, Aneel e outros, se manifestaram a respeito das projeções realizadas e se mostraram satisfeitos com os resultados. O estudo está disponível na página eletrônica www.ppe.ufrj.br.