Categorias
Memória

Futuros enfermeiros no combate à dengue

 Abril é o mês de comemorações do Dia Mundial da Saúde. Dentro do tema sugerido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a Escola de Enfermagem Anna Nery realizou hoje, 17 de abril, o evento “Protegendo a saúde frente às alterações climáticas”. O evento ocorreu no auditório Rodolpho Paulo Rocco, o Quinhentão, nessa manhã.

No Rio de Janeiro, seria quase impossível falar de saúde sem falar de dengue. Portanto, foi exatamente esse o tema da conferência. A epidemia da doença foi abordada por Maulori Cabral, professor do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG).  Cabral falou direto aos estudantes de enfermagem presentes, esclarecendo o que chamou de “mitos e verdades sobre a dengue”.

Para a abertura, estava presentes Maria Antonieta Tyrrell, diretora da EEAN, além de Lúcia Andrade, da Coordenação de Extensão da Escola, Márcia de Assunção Ferreira, coordenadora dos cursos de pós-graduação, Lílian Felippe, coordenadora de graduação e Ivis Emília de Oliveira Souza, professora titular do Departamento de Enfermagem Materno Infantil, representando o corpo docente da EEAN.

A diretora lembrou, na ocasião, a importância da integração da Escola de Enfermagem Anna Nery e da Universidade como um todo no combate à dengue no Rio de Janeiro. Ela lembrou que a EEAN já fechou um convênio com as secretarias Municipal e Estadual do Rio de Janeiro, incluindo capacitação de alunos e docentes, além da atuação direta em uma das tendas de atendimento. (Veja matéria no portal da UFRJ)

— O problema deve ser resolvido por todos os profissionais de saúde e não apenas por médicos. A situação exige toda uma gama de profissionais que, invisivelmente, se dedicam diariamente à saúde — afirmou Tyrrell, ressaltando a importância do papel do enfermeiro, assim como do psicólogo, do assistente social e de outros profissionais muitas vezes esquecidos.

Falando diretamente aos alunos, Maria Antonieta destacou o grau de responsabilidade dos alunos de uma Universidade pública. “A nossa Escola é da UFRJ, portanto é uma universidade pública. Temos, assim, um compromisso com a população, porque eles pagam a nossa razão de existir aqui”, alertou.

Dengue: uma doença educacional

Convidado pela Escola, Maulori Cabral afirmou categoricamente: dengue é uma doença educacional. Segundo ele, é preciso um amplo trabalho de conscientização no campo da prevenção da doença e da proliferação do Aedes aegypti, principal vetor do vírus. “Cada um de nós depende do vizinho, das pessoas com quem convivemos. Como a dengue é uma doença puramente educacional, deve-se ter um sentimento de amor ao próximo, em que cada um faz de tudo para que o próximo não pegue dengue. Nessa cadeia de atitudes, todos saem beneficiados”, declarou o professor.

De acordo com Cabral, para que cada um saiba lidar com a dengue da melhor forma possível, é preciso que quebrar alguns mitos sobre a doença. Segundo ele, o mais fácil de ser quebrado é o da água limpa. Maulori Cabral garante haver uma diferença fundamental entre água limpa para humanos (potável) e água limpa para mosquito. “Água limpa para mosquito é água que não tem detergente nem óleo”, assegurou o professor, lembrando também a necessidade da presença de microrganismos para que o mosquito fêmea escolha o lugar como ideal para sua prole.

Nesse contexto, a mosquitoeira, armadilha para mosquito patenteada pela UFRJ, consiste nesse lugar ideal, atraindo o mosquito e eliminando-o. Maulori vê o dispositivo, que pode ser confeccionado em casa, com um material bem simples, como uma potente arma no combate ao vetor. “A mosquitoeira vai ser um amuleto da sorte, para que o país fique livre da dengue e de todas os incômodos provocados por insetos, principalmente mosquitos”, apostou Maulori, citando a experiência feita na ilha de Paquetá, onde todos os residentes fizeram o dispositivo. O grupo de pesquisadores agora aguarda os resultados.

A febre que vem de longe

Depois das epidemias dos sorotipos 1, 2 e 3 da dengue, o temor de um tipo 4 se manifestar no próximo ano vem tomando forma a cada dia. Para Maulori Cabral, a hipótese não pode ser descartada. “Nós corremos risco de, se a população do mosquito for mantida em ambiente urbano, sermos afetados por dengue 4”, avaliou.

De modo semelhante, outros mosquitos podem causar problemas ao Brasil no próximo ano. Os muriçocas, aqueles normalmente observados à noite, podem transmitir uma forma de virose do mesmo grupo dos vírus da dengue chamado febre do oeste do Nilo. “Essa flavivirose é normalmente trazida de um país para outro por meio das aves migratórias. No Brasil, sempre no mês de setembro, chegam aves oriundas do norte da América e, em 2008, o alvo pode ser o Brasil”, alertou o professor.

Seja para a dengue ou para esta outra possível doença, que pode causar encefalite nos casos mais graves, é fundamental eliminar os vetores. “Para eliminar o risco de dengue 4 e o perigo da febre do oeste do Nilo, a melhor maneira é se livrar dos mosquitos e, para se livrar dos mosquitos, a melhor maneira é fazer seu papel social e construir sua ‘mosquitérica’ (mosquitoeira genérica), para fazer um controle da qualidade da vizinhança”, orienta Maulori Cabral. Ao final da conferência, o professor ensinou aos alunos como fazer a armadilha. O passo a passo pode ser encontrado na WebTV UFRJ.