A Coordenação de Programas de Estudos Avançados (Copea) da UFRJ recebeu, nesta quinta-feira, Silvia Guterres, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), responsável pelo desenvolvimento no Brasil de um dos primeiros produtos nanotecnológicos para fins medicinais. Ela explicou o processo da nova tecnologia, assim como os desafios e contravenções que enfrenta.
Após definir nanotecnologia como o produto de um conjunto de pesquisas e desenvolvimentos tecnológicos em nível atômico, molecular e macromolecular, Silvia explicou o conceito na área da saúde: “Um conjunto de diferentes estratégias que fazem com que determinado remédio ou produto seja encaminhado para partes específicas do organismo, o que permite fármacos mais seguros e eficazes”.
De acordo com a professora, a diferença de um remédio convencional para um associado a técnicas nanométricas está na estrutura das partículas conhecidas como nanocarreadores. Além do tamanho reduzido – que permite a passagem por certas barreiras biológicas –, o diferencial dos nanocarreadores é que eles podem ser planejados, produzidos e controlados, de acordo com a função que se deseja.
– Na nanotecnologia, pode-se usar a manipulação para administrar sua estrutura. Ao contrário do que acontece no tratamento do câncer, em que as drogas atingem além das células-alvo, também células normais, as partículas nanométricas com medicamentos assimilados são manipuladas de forma a proteger a substância ativa que está carregando, aumentar a penetração e garantir a estabilidade química do remédio -,afirma a professora.
Evolução
O desafio de conseguir um medicamento que atingisse apenas a região desejada, com rapidez e sem causar danos colaterais foi alvo da curiosidade de pesquisadores há muito tempo. De acordo com Silvia, o cientista Paul Erich, no início do século XX, foi o primeiro a pensar na seletividade dos medicamentos:
– Ele imaginava o conceito de “bala mágica”, que chegasse exatamente ao ponto necessário. Embora não tenha tido êxito na época – até mesmo porque não havia ferramentas para o desenvolvimento desse tipo de tecnologia –, sua idéia foi resgatada décadas depois.
A nanobiotecnologia começou a ser desenvolvida com o advento dos microscópios eletrônicos – que permitiram aos pesquisadores enxergar dentro da matéria – e com a evolução da Química Fina, quando novos produtos sintéticos foram produzidos de forma mais segura. De lá para cá, o interesse crescente pode ser percebido com a quantidade de artigos científicos a este respeito.
Apesar do avanço, no entanto, a professora lamenta que até agora a potencialidade da nova tecnologia não seja democrática: “A dengue, por exemplo, se beneficiaria muito da nanotecnologia. Mas, como é uma tecnologia cara, os laboratórios farmacêuticos raramente a aplicam a doenças negligenciais, como malária, leishmaniose, esquistossomose também”.